Paso doble
Sempre que posso cumpro minhas promessas. Agora é uma dessas ocasiões. Pra falar a verdade, aproveito para fazê-lo em dose dupla.
Ora vejamos: Ontem conheci o Renato, o Chiquinho e Agata (vou chamá-la assim por que me esqueci de perguntar seu nome). A gata segue Renato onde quer que ele vá. É, digamos assim, a administradora/ guardiã do estabelecimento, competentíssima.
Renato é o proprietário e, como vocês podem ver, adora o que faz. Consertar bicicletas. Esperando a troca de um guidon, fuçando no depósito, descobri ser ali, no fundo da bicicletaria, uma das primeiras casas da localidade. A câmera digital entrou em ação.
Enquanto fotografava ouvia a conversa do Léo, meu amigo consultor para assuntos bicicletários (me considerar uma ciclista é muita ousadia, ou falta de noção, como vocês preferirem). Ele tem por esporte subir e descer os morros vizinhos numa bike possuída e por profissão ser um músico instrumentista. Um tremendo paradoxo existencial.
Leo conversava com o terceiro personagem citado lá em cima, o Chiquinho, encarregado de arrumar minha bicicleta. Além de bicicleteiro, Chiquinho é baterista e, no momento, está tendo aulas com o instrumentista/montainbikero de viola caipira.
Ligando as imagens a pessoa, lembrei-me dele na banda (antigamente era conjunto) que acompanhava os concorrentes no festival de música que havia assistido dias antes. Pois paralelamente aos ajustes que fazia nas marchas da bicicleta, me contou como trilhou o caminho da música.
Desperto para o assunto, foi na igreja que descobriu seu dom. Tocou pandeiro e outros instrumentos de percussão. Incutiu que queria tocar bateria. Ouvia CDS e reproduzia as batidas e viradas. Não perguntei que tipo de música havia sido seu guia. Ele não deu tempo. O assunto ia longe. Disse que o povo achava uma loucura a idéia de comprar uma bateria, que aquilo não dava futuro. O investimento seria perdido. O pai resolveu ajudá-lo. “Me botou para trabalhar com ele.Paguei minha bateria fazendo 12 currais. Moirão a moirão. Cada um enterrado um metro e meio. Ela custou 4 mil reais. Paguei à vista.” Relembra cheio de orgulho e com razão.
As primeiras noções de harmonia estão vindo agora. Juntas com os livros de acordes e uma mudança ambiciosa e radical: passar da percussão para as cordas, e por que não? A viola já tem. É de família.
Renato ouve a conversa e ajusta uma bike. A oficina é super organizada. Dois garotos circulam. Olhos compridos, aprendendo os macetes da arte de bicicletar. A luz muda, a tarde cai...
Eu, cá, comemoro as promessas cumpridas. Publicar texto e fotos dos acontecimentos do final de sexta feira que ora apresento e, na mesma tacada, (touché) encontrar uma forma de contar histórias e agradar meus exigentes editores concomitantemente. Troquei o foco, amigos. Cada lugar é um lugar, mas personagens como Renato e Chiquinho e Agata, a gata, existem em toda parte. Bicicletarias, também.
* Valéria del Cueto é jornalista, gestora de carnaval. Este artigo faz parte de uma série do SEM FIM http://delcueto.multiply.com cabe a você, leitor , escolher qual delas.
Um comentário:
me gusta valeria gracias
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