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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Na moral

Na moral

Texto e foto de Valéria del Cueto
Deixar Mato Grosso depois de seis anos de ausência não foi fácil. Mil motivos para estender a permanência e apenas um para voltar. Difícil decisão...

O pouco tempo na Chapada dos Guimarães não serviu para tirar o gosto de quero mais. Pelos amigos queridos, a música maravilhosa (não tem preço se embalar numa rede na varanda da casa da fada do jardim ouvindo o violão que ecoa por todo o espaço. Se, como dizem, as plantas se desenvolvem melhor quando escutam música, isso explica a exuberância que gerou tantos registros num dia especialmente iluminado de exploração fotográfica pela paisagem), o passeio pela sede das Bordadeiras da Chapada, projeto regado mesmo de longe com olhar de amor e muita torcida para que continue crescendo fiel as suas origens, com a instigante convivência das participantes. A sugestão é ir com tempo para uma boa prosa se passar por lá para conhecer os trabalhos e explorar os detalhes do espaço. A proximidade da Festa do Divino em Cuiabá e a de Nossa Senhora de Santana, a quem é dedicada a matriz de Chapada dos Guimarães, prometia grande imagens e muitas emoções.

Ficou faltando mais banhos de rios, noites na varanda da Vivenda da Vovó Suely, encontros felizes com gente querida, reencontros mais alegres ainda. Poderia ter havido tempo para mais reconciliações e declarações de amores, carinhos e amizades que permanecem verdadeiras, apesar da distância. Também ainda havia espaço para muita comida cuiabana e pantaneira. Pacu recheado, farofa de banana, pintado, bolo de queijo, um furrundu de vez em quando...

Nem cheguei no São Gonçalo, para visitar Domingas! Teve arte e risadas aos montes no encontro especial com Aline Figueiredo e Cacá de Souza, num almoço pantaneiro comemorativo. Não poderia ter sido melhor. E ficou assunto pra depois...

Só que era hora de voltar. Havia um compromisso no Rio de Janeiro. Participar com outros 18 fotógrafos da Exposição Artistas do Carnaval – Múltiplos Olhares, durante a Carnavália SambaCon. Na sua quarta edição ela reúne a cadeia produtiva carnavalesca brasileira para apresentar produtos e serviços, além dialogar sobre política e produção da festa popular. Em tempos de crise e problemas no relacionamento com os gestores públicos imaginem o papel de um evento desse porte.

Três fotos de cada participante e a dúvida atroz. O que mandar? Como estava viajando fiz um recorte temporal: carnaval 2017. A intenção era uma foto do ensaio técnico, outras duas do desfile de segunda-feira, o oficial. O foco nos Meninos da Mangueira, parceiros de outros carnavais.

A marcação da virada do samba no ar pelos diretores de bateria verde e rosa foi pule 10. Especialmente porque faz tempo preparo um trabalho sobre os gestuais e comandos dos mestres de bateria.

A foto do fradinho ritmista Bruno Obrigado no contra da luz do dia nascendo com as arquibancadas populares ao fundo surgiu pela ausência de elementos, um certo “minimalismo” em meio ao caos entusiasmado da dispersão do desfile.


Foto de Moacyr Barreto
Para finalizar o beijo da sorte abençoado pelo Santo Antônio do “padre” diretor Wallace Tchoá e da noivinha passista, Jhéssyka  Santtos. Uma licença poética carnavalesca. Dessas que andam fazendo falta na folia. Um selão de alegria e irreverência num assunto sério que parece ter virado uma guerra. A intolerância generalizada que impede o diálogo e a convergência que deveriam nortear um momento de crise como o que atravessamos


Foi justamente dela que veio a surpresa. O convite da Nega Chic Elisa Santos para fornecer estampas que seriam modeladas para uma performance relâmpago nos corredores da Carnavália SambaCon. Sem maiores explicações, porque não dava tempo. Da Mostra CarnevaleRio foram resgatados alguns detalhes do barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel, do enredo de Cid Carvalho “Parábola dos Divinos Semeadores”, de 2011. Deu no que deu a junção de parcerias. Foi tão legal que pediram bis! A passagem das modelos “tatuadas” e invocadas com a faixa “CARNAVAL MERECE RESPEITO” foi aplaudida pelos corredores momentos antes sorteio da Ordem dos Desfiles do Grupo Especial no Carnaval de 2018, um dos pontos altos do evento. Na moral...

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte das séries “Parador Cuyabano” e “É carnaval”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
Studio na Colab55

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Canto pros santos do meu canto

Canto pros santos do meu canto

Texto e foto de Valéria del Cueto

Acordar ouvindo a gritaria da passarada na janela enorme a sombra das borboletas de metal que dançam ao vento presas no entorno da não parede transparente. O pulo da cama é para tomar um copo de água fresca e fazer a ginástica diária de subir o toldo e abrir o janelão, deixando o ar da imagem matinal invadir e clarear o espaço do quarto.

Ao descer as escadas não esquecer de apagar a luz. Guia para o caso de precisar ir até a parte de baixo da casa durante a noite. Entre reparar na luz acesa e chegar ao pé da escada de madeira e ferro, a atenção é desviada para luminosidade que vem do lado de fora.

São poucas paredes. Os vãos envidraçados fazem com que tudo se mexa onde normalmente haveria apenas o senso comum de decoração interior. Os raios de sol projetados invadem o ambiente e quanto mais o vento agita as folhagens que cercam a habitação, maior o ritmo do balanço que alegra o chão e as pilastras de sustentação da sala/cozinha vazada. As sombras dos passarinhos que dão rasantes entre as árvores em busca do alimento matinal também fazem da manhã uma festa na Vivenda da Vovó Suely.

O tempo está perfeito. Quase julho e o ar ainda está limpo, como se já não fizesse mais de um mês sem uma gota d´água vinda do céu, apesar de algumas ameaças e a torcida geral por chuvas que adiassem o princípio da secura insuportável do “verão” no cerrado cuiabano.

Deu até uma esfriada. Aquela que o céu fica vermelho e a lua tem um halo em seu redor. Isso, um dia antes da parede de nuvens pesadas se formar para o lado sul no meio da tarde e ir invadindo o horizonte e depois completando o céu inteiro. Chegou o frio! Notado até por aqueles que, mais acostumados que os cuiabanos em geral, só o sentem quando a temperatura baixa dos 14 graus. Pois baixou...

Graças a Deus não durou nem pegou a temporada dos festejos de São Benedito, o santo padroeiro de Cuiabá. Assim, todos os devotos puderam louvá-lo com pompa e circunstância. Especialmente nas atividades da madrugada, como a novíssima lavagem das escadarias da igreja a ele dedicada e o tradicionalíssimo levantamento do mastro, com a imagem do Divino Espirito Santo ornamentando o topo. Diz a lenda que o lado que a bandeira aponta é de onde virá o futuro Imperador, organizador os festejos no próximo ano. Seja cumprindo promessa, fazendo pedidos para o santo, usando sua coroa, entoando os cânticos da missa da madrugada, experimentando o café com bolo depois da função, participando da procissão ou frequentando as barracas de comidas típicas cuiabanas, a fé do povo se manifesta a cada gesto.

Tão significativa e necessária é a devoção aos santos, como o ritual correspondente à natureza local. Ele pede o banho de rio na Chapada dos Guimarães onde, certamente, descem nas águas cristalinas as energias excessivas que se acumulam no corpo e na alma do vivente. Com sorte a água pode não estar muito gelada depois da inevitável descida até a beira do rio Paciência, por exemplo. E não adianta somente colocar os pés na água, molhar as mãos e a nuca.

O ideal é um mergulho físico e espiritual em que apenas o esforço para não rodar riacho abaixo faça o fio terra com o mundo real. Se der, que a conexão seja feita só com a ponta dos dedos dos pés, numa aula prática de física para demostrar como um único ponto fixo pode segurar a força do corpo contra a correnteza das águas.

Como na vida, em que os pequenos gestos e movimentos podem ser definitivos e decisivos diante do turbilhão que nos cerca e tenta nos devorar, serão as delicadezas e sutilezas que nos manterão ligados ao que temos de melhor a preservar.

A essência da simplicidade é a luta pela verdade. A nossa verdade interior. Aquela que insiste em resistir em se manifestar livremente, como um direito que todos deveríamos exercer plenamente em nosso dia a dia.

Lembra da luz ao pé da escada? Voltando para apagar. Ficou acesa...

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Parador Cuyabano”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Luiz Márcio – Gênio
Studio na Colab55

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Esquinas do mundo


Esquinas do mundo

Texto e foto de Valéria del Cueto

Cada mundo é uma esquina, ou cada esquina é um mundo? É o que me pergunto, enquanto espero alguém atrasado numa delas.

Vejo a senhora gorda passeando vagarosamente com seu par apoiado numa bengala, o vendedor da loja de roupas masculinas jogando a guimba de cigarros no meio fio sem nenhum pudor ou vergonha, observado por uma criança que agarrada em sua mãe espera o sinal abrir e pergunta, inocentemente por que o homem suja seu próprio “entorno”.

Foi esse mesmo o termo usado pelo menino, de seus 9 anos. Ele deve ter guardado a palavra para usá-la no momento apropriado. A mãe arregala os olhos, pensando no que dizer para uma pergunta que só tem uma resposta: falta de educação.

Mas esta característica não é exclusiva do vendedor, que volta para o interior da loja pronto e revigorado para atender mais alguns possíveis clientes com suas mão cheirando a nicotina: o ônibus escolar dá seta para dobrar na avenida e segue em frente, quase pegando o ciclista entregador que, confiando na sinalização do veículo, cruza na frente dele, furando o sinal vermelho.

Na calçada a madame, com seu cachorrinho no colo, espera pacientemente sua hora de atravessar a rua movimentada. O cachorro usa sapatinhos coloridos para não sujar as patinhas e, posteriormente a casa de sua dona.

Em baixo da marquise, dorme um menino de rua, sujinho, sujinho, sem notar o rebuliço em volta, exausto por suas atividades noturnas, embaladas a cola, correria e pedidos de esmola. Está coberto por um lençol imundo e protegido por um papelão velho. É fácil conhecer sua história pelo "entorno", citado pelo menininho.

O sol aparece entre as nuvens, mudando o colorido local. Eu sigo esperando na esquina do mundo. Chegando de viagem e sem saber muito bem onde estou: Rio, Uruguaiana, Cuiabá? Só sei que não é nem Brasília, que não tem esquina, nem na Chapada dos Guimarães, onde as esquinas dormem o dia inteiro, menos as da praça central.

Não faz diferença. O mundo passa por mim e eu olho pra ele sempre interessada, sempre pronta para descobri-lo e, ao fazê-lo, me descobrir mais um pouco.

Quem me fazia esperar se aproxima, com um sorriso de desculpas pelo atraso iluminando o rosto. Digo que não me importo com o fato, porque aproveitei o tempo para observar o mundo daquela esquina. A pessoa me olha com estranheza. Não reajo, nem estico minhas explicações. Não é qualquer um que acha graça numa esquina.

Quando o mundo daquela esquina não pode ser visto, ela é apenas o que meu acompanhante vê. Uma esquina. E não um mundo...

Valéria del Cueto, para série Ponta do Leme, do SEM FIM...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quem tece teias, encera a vida


Quem tece teias, encera a vida

Texto e foto de Valéria del Cueto

Quando você ler esta narrativa, o que agora escrevo e descrevo, estarei a milhares de quilômetros da minha realidade atual: uma canga (sempre ela) estendida no gramado dos fundos do chalé onde descanso do trabalho, nos finais de semana.

O vento balançando a gigantesca mangueira em plena floração, enche o espaço de micro florezinhas. Este perímetro, aí incluindo meus cabelos  já salpicado de florinhas, é todo delas que também se abrigam na costura do caderno onde escrevo agora (e quase sempre) e até na a teia de aranha, construída na grade verde que protege a porta da cozinha.

Há alguns finais de semana que acompanho a construção dessa teia, torcendo para que dona Elza não passe por aqui com sua vassoura, o que agora, com a quantidade de florezinhas presas nas garras da aranha-mor, não vai demorar para acontecer. Na verdade, a teia só sobreviveu a faxina semanal por que vim mais cedo pra Chapada dos Guimarães essa semana e atrapalhei a concentração de Dona Elza jogando conversa fora, pra variar. Assunto entre nós é o que não falta.

Desembarcamos na casa da beira da piscina mais ou menos ao mesmo tempo. E, desde então, ela tem sido uma guerreira no combate as formigas que, se achando as donas do pedaço, se abrigavam em lugares tão incríveis quantos o piso de madeira da sala, o canto do sofá, o estrado da cama de casal e, pasmem, dentro da esquadria de metal da porta principal.

Uma loucura. A casa estava fechada e, pelo sim, pelo não, por que não ocupa-la, como a tudo em volta? As formigas da Chapada são cascudas. Poderosas. E é aí, no quesito “caçadora de formigas”, que dona Elza faz o maior sucesso. Sua especialidade é acabar com a mordomia das meninas, garantindo um espaço pra mim no mundo maravilhoso da casa da rua da Piscina, sem número.

Sei que ganhei uma amiga e cúmplice no longo trabalho de cuidar não só da casa, mas de todo o terreno que me cabe no meu reino de final de semana. E não vai ser pouco o trabalho já que eu adoro brincar de casinha e dona Elza já me confessou que se apaixona pelas casas que cuida, mais que pelos moradores. E não é que após dois meses a diferença já é gritante?

O todo esse esmero me remete para minha infância. Acontece que parte do piso da sala e do espaço onde vejo vídeo e escuto música é de madeira. Quando assumimos os trabalhos no local, essa parte estava bem castigada. Os olhos de Dona Elza brilharam quando viu o tal piso e ela logo me disse que ia deixá-lo impecável. Não demorou muito. Quando abro a porta, na sexta feira, no final da tarde, sempre reparo no capricho do lustre, fruto de muita cera e esfregação. Igualzinho a casa onde fui criada, no Leme. Só que em proporções reduzidas, é claro.

E aí, volto no tempo. Lembro de Dona Ena, minha avó, dando altas broncas, por que a criançada corria pelas salas e corredores, detonando com os sapatos o latifúndio, arranhando os tacos recém encerrados. Era uma enxugação de gelo danada, querendo que nós, as três pestinhas de plantão, resistíssemos a correr – e muito – pela vida da família que habitava o apartamento do Leme.

O bom é que minha avó dava as broncas e procurava sempre um meio de “solucionar” o problema. No caso, ela acabou criando uma nova modalidade de brincadeira para dias de sol e chuva. Tirou de um armário um antigo vestido de não me lembro quem, que tinha camadas um tule cor-de-rosa na saia e fez uns sapatos, ou botas, de acordo com a preferência de cada neto, pra gente.... patinar pelo apartamento. Resultado: a brincadeira pegou, e o piso ficava um brinco. Brilhando como nunca pelo nosso efeito enceradeira.

Pois agora, anos luzes depois, quando entro na casa da Chapada e vejo o brilho do piso, sou atirada no túnel do tempo. Aliás, o zelo com o tal piso faz com que cada vez que chego dos passeios de bicicleta pelas redondezas e penso em atravessar este espaço, tão bem cuidado, para recolher meu imóvel andante, eu acabe chegando ao cúmulo de carregar a bicicleta para que suas rodas, cheias de lama ou de terra, não deixem seu rastro no piso de tábua corrida. Vai que Dona Elza seja tão boa de bronca como minha avó!

Pois é por causa de tantas e tão boas lembranças que informei lá em cima que quando estiver lendo esse texto, estarei tão longe. Vou ao encontro das minhas melhores recordações e motivações, rever o que me faz ser mulher o bastante para partir pra qualquer desafio. Meu ponto de referência, meu porto seguro.

E, na Ponta do Leme, ouvindo o barulho do mar batendo no Caminho dos Pescadores estarei lendo, como você, a história que, ao narrar, perpetuo.    Afinal, cada um, assim como a aranha que habita a grade da porta, tece a teia que pode e merece. A questão é saber o que vamos recolher nela:  alimento e nutrição, ou simplesmente florezinhas intrometidas de uma mangueira abusada, sacudia pela ventania, numa tarde amena do centro oeste. Bom dia pra você!

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte de uma série do SEM FIM 


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Raios, aros e quintais

Clique no LINK para acessar o ensaio fotográfico no FLICKR

Raios, aros e quintais

Um ensaio na bicibletaria do Renato, na Chapada dos Guimarães.
O texto está no SEM FIM..., se chama Paso Doble.
* texto e fotos de Valéria del Cueto

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Paso doble


Paso doble

Texto e foto(s) de Valéria del Cueto

Sempre que posso cumpro minhas promessas. Agora é uma dessas ocasiões. Pra falar a verdade, aproveito para fazê-lo em dose dupla.

Ora vejamos:  Ontem conheci o Renato, o Chiquinho e Agata (vou chamá-la assim por que me esqueci de perguntar seu nome). A gata segue Renato onde quer que ele vá. É, digamos assim, a administradora/ guardiã do estabelecimento, competentíssima.

Renato é o proprietário e, como vocês podem ver, adora o que faz. Consertar bicicletas. Esperando a  troca de um guidon, fuçando no depósito, descobri ser ali, no fundo da bicicletaria, uma das primeiras casas da localidade. A câmera digital entrou em  ação.

Enquanto fotografava ouvia a conversa do Léo, meu amigo consultor para assuntos bicicletários (me considerar uma ciclista é muita ousadia, ou falta de noção, como vocês preferirem). Ele tem por esporte subir e descer os morros vizinhos numa bike possuída e por profissão ser um músico instrumentista. Um tremendo paradoxo existencial.

Leo conversava com o terceiro personagem citado lá em cima, o Chiquinho, encarregado de arrumar minha bicicleta. Além de bicicleteiro, Chiquinho é baterista e, no momento, está tendo aulas com o instrumentista/montainbikero de viola caipira.

Ligando as imagens  a pessoa, lembrei-me dele na banda (antigamente era conjunto) que acompanhava os concorrentes no festival de música que havia assistido dias antes. Pois paralelamente aos ajustes que fazia nas marchas da bicicleta, me contou como trilhou o caminho da música.

Desperto para o assunto, foi na igreja que descobriu seu dom. Tocou pandeiro e outros instrumentos de percussão. Incutiu que queria tocar bateria. Ouvia CDS e reproduzia as batidas e viradas. Não perguntei que tipo de música havia sido seu guia. Ele não deu tempo. O assunto ia longe. Disse que o povo achava uma loucura a idéia de comprar uma bateria, que aquilo não dava futuro. O investimento seria perdido. O pai resolveu ajudá-lo. “Me botou para trabalhar com ele.Paguei minha bateria fazendo 12 currais. Moirão a moirão. Cada um enterrado um metro e meio. Ela custou 4 mil reais. Paguei à vista.” Relembra cheio de orgulho e com razão.

As primeiras noções de harmonia estão vindo agora. Juntas com os livros de acordes e uma mudança ambiciosa e radical: passar da percussão para as cordas, e por que não? A viola já tem. É  de família.

Renato ouve a conversa e ajusta uma bike. A oficina é super organizada. Dois garotos circulam. Olhos compridos, aprendendo os macetes da arte de bicicletar. A luz muda, a tarde cai...

Eu, cá, comemoro as promessas cumpridas. Publicar texto e fotos dos acontecimentos do  final de sexta feira  que  ora apresento e, na mesma tacada, (touché)  encontrar uma forma de contar histórias e agradar meus exigentes editores concomitantemente. Troquei o foco,  amigos. Cada lugar é um lugar, mas personagens como Renato e Chiquinho e Agata, a gata, existem em toda parte. Bicicletarias, também.

* Valéria del Cueto é jornalista, gestora de carnaval. Este artigo faz parte de uma série do SEM FIM   cabe a você, leitor , escolher qual delas.