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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Será?

Será?

Texto e foto de Valéria del Cueto

Novamente escrevo antes para publicação posterior a um eclipse. Diz que esse é poderosão e mexe até com a crosta da terra e o peso corporal das pessoas.

Coisa séria, mas não suficiente para dar um sacode nesse panorama mais enrolado que fio de arame farpado véio na hora da troca do aramado nos campos. Enquanto isso, não sabemos se partimos para dentro ou damos a volta por cima. Se ficar, o bicho pega, se correr o bicho come.

Escrevo e vejo cenas de uma operação policial no Rio de Janeiro. O que chama a atenção é a “preparação” da chegada dos meliantes recolhidos em várias comunidades cariocas. Agora, as forças policiais fazem formação e esperam o sinal de “ação” para entrarem no raio das câmeras de TV que aguardam a chegada dos apreendidos na delegacia no “ao vivo”. Tempos “mudernos”...

Em Brasília, a secura e o vento formaram um redemoinho que passeou pela paisagem do Distrito Federal. Pena que não era o de Dorothy e o Mágico de Oz não teve oportunidade de dar uma repaginada nos personagens de Brasília.

Quem seriam o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde? Tem as Bruxas Más do Leste e do Oeste. Lembrando que a do Leste já foi pro book, mortinha da silva pela casa de Dorothy que despencou em cima dela, depois de rodopiar de Brasília, ops, do Kansas, até as terras de OZ que abrigam fadas, bruxas e outros seres mágicos. Aqui e lá, todo mundo vagueia procurando a Estrada Amarela que leva até a Cidade das Esmeraldas e ao mágico severo, mas que realiza os desejos.

Se fosse aqui, em terras brazucas, seria difícil que não houvesse, junto com nossa Dorothy e seu cãozinho Totó, não apenas quatro amigos, mas uma multidão de descerebrados, covardes e seres sem coração, seguindo a sonhadora menina. A maioria, certamente, não terá direito a clemencia, o que dirá a uma graça especial do Grande OZ...

Enquanto nosso conto de fadas não vira realidade, conviveremos com o silêncio por quatro anos das famosas badaladas de Big Ben, o relógio londrino (que, por coincidência, ou não, parou de badalar regularmente ao meio dia do dia do eclipse total). Quem ouviu, ouviu, quem não ouviu terá mais dificuldades em fazê-lo no decorrer do período.

Uma reforma milionária e meticulosa de suas engrenagens só o fará soar em ocasiões especiais como o réveillon informam os austeros e precisos porta-vozes ingleses aos meios de comunicação.

Sem querer fazer premonições, sinto que seu silêncio será quebrado em outras ocasiões menos festivas e mais necessárias. O mundo não está para brincadeiras e nem para deixar sossegados seus símbolos mais significativos. Vamos aguardar e ver quais serão os motivos que farão o velho relógio soar seus badalos até 2021. Está aí um bom motivo de apostas nas famosas bolsas londrinas.

Voltando ao sumiço do sol, o Apocalipse de São João informa que esse eclipse seria o princípio do fim do mundo. Captou a mensagem? É só o princípio...

Diante dessa auspiciosa semana, vou ali fazer ginástica e dar uma meditada no horário do fenômeno que é para me certificar que esta leveza lunar auxilie meu esforço atlético.

Afinal, com o quadro acima descrito, é preciso ter pernas para parar o mundo e, quando dele conseguir descer, correr para o mais longe que puder! É perna do mundo e não no mundo, para sumir, como cantou Gonzaguinha.

Se não corporalmente, em espírito. De luz, de preferência, para fazer desse um momento sério (como de fato é), mas cheio de esperanças. Que possamos almejar com a leveza do nosso corpo e o magnetismo “eclíptico” tempos melhores num futuro não tão distante. Pior que está... o que será?

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Arpoador” do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
Studio na Colab55

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Esquinas do mundo


Esquinas do mundo

Texto e foto de Valéria del Cueto

Cada mundo é uma esquina, ou cada esquina é um mundo? É o que me pergunto, enquanto espero alguém atrasado numa delas.

Vejo a senhora gorda passeando vagarosamente com seu par apoiado numa bengala, o vendedor da loja de roupas masculinas jogando a guimba de cigarros no meio fio sem nenhum pudor ou vergonha, observado por uma criança que agarrada em sua mãe espera o sinal abrir e pergunta, inocentemente por que o homem suja seu próprio “entorno”.

Foi esse mesmo o termo usado pelo menino, de seus 9 anos. Ele deve ter guardado a palavra para usá-la no momento apropriado. A mãe arregala os olhos, pensando no que dizer para uma pergunta que só tem uma resposta: falta de educação.

Mas esta característica não é exclusiva do vendedor, que volta para o interior da loja pronto e revigorado para atender mais alguns possíveis clientes com suas mão cheirando a nicotina: o ônibus escolar dá seta para dobrar na avenida e segue em frente, quase pegando o ciclista entregador que, confiando na sinalização do veículo, cruza na frente dele, furando o sinal vermelho.

Na calçada a madame, com seu cachorrinho no colo, espera pacientemente sua hora de atravessar a rua movimentada. O cachorro usa sapatinhos coloridos para não sujar as patinhas e, posteriormente a casa de sua dona.

Em baixo da marquise, dorme um menino de rua, sujinho, sujinho, sem notar o rebuliço em volta, exausto por suas atividades noturnas, embaladas a cola, correria e pedidos de esmola. Está coberto por um lençol imundo e protegido por um papelão velho. É fácil conhecer sua história pelo "entorno", citado pelo menininho.

O sol aparece entre as nuvens, mudando o colorido local. Eu sigo esperando na esquina do mundo. Chegando de viagem e sem saber muito bem onde estou: Rio, Uruguaiana, Cuiabá? Só sei que não é nem Brasília, que não tem esquina, nem na Chapada dos Guimarães, onde as esquinas dormem o dia inteiro, menos as da praça central.

Não faz diferença. O mundo passa por mim e eu olho pra ele sempre interessada, sempre pronta para descobri-lo e, ao fazê-lo, me descobrir mais um pouco.

Quem me fazia esperar se aproxima, com um sorriso de desculpas pelo atraso iluminando o rosto. Digo que não me importo com o fato, porque aproveitei o tempo para observar o mundo daquela esquina. A pessoa me olha com estranheza. Não reajo, nem estico minhas explicações. Não é qualquer um que acha graça numa esquina.

Quando o mundo daquela esquina não pode ser visto, ela é apenas o que meu acompanhante vê. Uma esquina. E não um mundo...

Valéria del Cueto, para série Ponta do Leme, do SEM FIM...