Texto
e foto de Valéria del Cueto
Minha
rota de fuga já é conhecida. Diante de qualquer abalo me procurem na Ponta,
embaixo da pedra do Leme. O entorno guarda resquícios da tempestade que fez da
máxima do prefeito Eduardo Paes uma dolorosa e triste realidade. Mais do que
nunca, somos um rio. De lama e lixo, ele esqueceu-se de avisar.
Aqui, o
mar alto que chegou com a chuvarada faz a feste do povo da água que se arrisca
em altas ondas coladas a pedra. Para encurtar a rota e economizar braçadas a rapaziada do bodyboard pula do meio do Caminho dos Pescadores, já na
boca da fera! E faz a festa.
Troquei
sim o barulho ensurdecedor do rotorooter do Eduardo Paes pelo som delicioso das
ondas do mar.
Já
reparou? É a segunda vez que cito o nome do indigesto alcaide do Rio de Janeiro
nesse texto. A culpa é dele que não me deixa esquecer sua atuação de Penélope
Pavorosa, como diz um jornalista amigo, testemunha intermitente da obra mal
feita da Dimensional, empreiteira
contratada pela Secretaria Municipal de Habitação, do engenheiro Jorge Bittar.
Ela, que tentou a façanha de exigir que o esgoto do Chapéu Mangueira e da
Babilônica fizesse a curva no pé da Ladeira do Leme e seguisse obediente pela
Rua Ribeiro da Costa, descobriu que a ordem não seria seguida assim, de bom
grado, de acordo com o excelente projeto planejado e executado pela referida
empresa.
Resumindo:
a curva entope e a língua negra da praia em frente, continua lá, como uma
careta, escarnecendo da incompetência comprovada dos obristas do pedaço.
Assim é
que, mesmo que me esforce para esquecer as
trapalhadas eduardianas, uma em cada quatro semanas, lá estão os
diligentes operários da extraordinária Secretaria de Habitação, vestindo
(agora) um incrível macacão amarelo “olha eu aqui” e suas respectivas galochas
de borracha, chafurdando na lama contaminada do mega bueiro existente justo
embaixo da minha janela.
Não
bastasse o cheiro de podridão que me leva a uma associação imediata ao resumo
das obras malfeitas e pagas com o dinheiro suado de nossos impostos, também sou
obrigada a conviver com a poluição sonora no horário comercial, propiciada pelo
motor constante do chupa lama necessário para desobstruir o joelho da tubulação
do esgoto da prefeitura. No dos outros é refresco, senhor. Aqui, mal dá pra
respirar.
Acontece
que o conteúdo elameado, composto de dejetos, detritos e componentes afins
içados das entranhas do asfalto ficam ali, no meio da rua, secando ao sol,
sendo levado pelo vento marinho para as residências adjacentes. Enfim, nosso
querido prefeito traz mensalmente, por uns 5 dias, a poluição, as doenças e a
contaminação do esgotamento sanitário até nós, sortudos moradores do entorno. Quem
não seria inesquecível com uma atuação exemplar como essa?
Mas,
como sou uma pessoa justa, tenho que
reconhecer: o sistema de coleta vem se aperfeiçoando a cada nova
incursão dos operários ao fantástico mundo das tubulações mal feitas. Além das
roupas de borracha (daqui a pouco serão escafandros, por que respirar aquele ar
merece mais do que um trocadinho de insalubridade), trocaram o carrinho de mão
sem rodas, içado por cordas, que era o subidor da lama por uma sensacional
escada para facilitar o sobe e desce do peão. (veja a foto ilustrativa do
equipamento de última geração e grande precisão).
Arrumar a engenharia e punir
o (i)responsável pela empreita mal executada, nem pensar! Afinal, como Penélope
enrolará as finanças e desfiará mais um
trocadilho dos idiotas de plantão? É por isso que eu... rio!
*Valéria
del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte
da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM...
delcueto.cia@gmail.com