quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A quem interessa?


A quem interessa?

Que covardia! Véspera da COP 30, a cúpula do clima, em Belém do Pará.
O Rio é uma das principais portas de entrada do país. A quem interessa jogar os holofotes do mundo na falta de segurança da cidade?
Quais as consequências da violência, começando pela overdose de imagens, algumas impublicáveis, circulando pelas redes sociais?
Que forma torpe de tentar virar a maré.
Claudio Castro enterrou as expectativas da temporada turística carioca.
A quem interessa?


Studio na Colab55

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Paz na terra



Paz na terra

Texto e foto  Valéria del Cueto

Querida cronista. Estou há dias alinhavando as últimas novidades para atualizá-la nos acontecimentos aqui de fora. Está difícil!

Tenho parte da responsabilidade no atraso e não nego. Porém, outros fatores aumentam a dificuldade de resumir tantos eventos nas poucas palavras que consigo enviar pelo raio de luar que ilumina sua cela.

Esse seu exílio voluntário do outro lado do túnel, cá para nós, torna nossa comunicação mais difícil e complicada que a ausência de um simples whatsapp, o meio de comunicação que, diz a lenda, mudou a maneira dos terráqueos se comunicarem.

Agora é costume usarem as redes sociais para tudo, inclusive comunicados oficiais, bate-bocas e DRs entre os governantes! Aí começa minha dificuldade plucplacteana de extraterrestre interplanetário ainda preso nesse mundão por problemas propulsores na minha nave viajante.

Pelo tempo de seu exílio sinto lhe informar que invertemos nossos papéis. Você, que me ensinou de um tudo quando caí sem paraquedas cultural aqui na Terra, me nutrindo de conhecimento popular e informações que permitiram minha sobrevivência no planeta de maneira menos traumática, se resolvesse abandonar seu refúgio voluntário, precisaria de aulas intensivas para se readequar ao cotidiano do lado de cá!

São essas instruções que gostaria de deixar em nossa intermitente correspondência. Não dá! Precisaria de muitas luas, dezenas ou até centenas de raios do luar que banham sua cela para prepará-la para sobreviver minimamente por aqui. E isso não seria tudo. Conhecimento é vida, mas a necessidade de um intenso preparo psicológico para segurar sua onda seria essencial!

Quase nada no pedaço é como antes e isso, certamente, mexerá profundamente com seu emocional. Aquele que você tenta valentemente preservar neste isolamento.

Para ajudar nesse sentido, tenho trocado algumas impressões com suas sobrinhas. A Luisa, no quesito psicológico, e a Natália, na parte de equilíbrio mental e corporal.

Caso não tenha registrado, as meninas viraram mulheres. Luluca é psicóloga e Nat acupunturista. Vai se formar em fisioterapia após largar de mão, depois de terminar, o curso de línguas estrangeiras para relações exteriores. Dos idiomas persiste no estudo do mandarim. Tudo a ver com a medicina chinesa a que se dedica.

Você vai precisar desses apoios para manter sua mente e seu corpo sãos. Pode ter certeza!

Já sei o que vai dizer. Que essa cartinha está com cara de abandono. Talvez sim. Mas garanto que não será voluntário, como seu exílio. Acontece que a maré não está para peixe, nem o céu é mais do condor.

O presidente dos EUA que se dedica a uma perseguição implacável aos imigrantes em seu território (como os nazistas caçavam os judeus e outras minorias nos tempos da segunda guerra) expandiu suas atividades bélicas aos mares internacionais. Bombardeia navios e barcos de pescadores. Sem direito a defesa! Alega, sem provas nem julgamento legal, o transporte de drogas para seu país.

Na Europa, drones interferem nas operações de aeroportos de vários países enquanto ataques da Rússia contra a Ucrânia prosseguem sem perspectivas de paz apesar do encontro, com direito a tapete vermelho no Alaska, dos que se acham donos do mundo. O resultado do rapapé foi nulo. A guerra continua...

Sim, amiga cronista, no meio desses tiroteios corro sérios riscos no céu, na terra e no mar. Por isso procuro uma rede de proteção para sua sobrevivência e sanidade. Sei lá, não sei do meu, antes quase tranquilo, futuro de viajante errante.

Não quero terminar essa missiva pra baixo. Trago a notícia de uma trégua na Palestina. Mais uma vez estão na primeira etapa da tentativa de uma paz negociada depois de Netanyahu arrasar e devastar a Faixa de Gaza. Mas não se anime!

No momento estão trocando reféns e prisioneiros. Para variar, os primeiros têm nomes, sobrenomes e histórias. Já os palestinos são apenas números despejados na terra destruída, sem direito sequer a entrada massiva de alimentos e apoio médico para a população atingida pela barbárie incontrolável.

A ação foi na medida para alimentar a pretensão do “King in América” a almejar o Prêmio Nobel, indicado pelo algoz do Oriente Médio. Só que... o pleito delirante não colou.

A laureada foi María Corina Machado “pelo seu incansável trabalho em promover os direitos democráticos pelas pessoas da Venezuela e pela sua luta para atingir uma transição justa e PACÍFICA de uma ditadura para a democracia”.

María Corina dedicou o prêmio a quem? Ao povo de seu país e ao presidente Trump, o que tem enviado navios militares à costa venezuelana e adota a estratégia de explodir barcos que os EUA “considerem” levar drogas ao território americano.

O primeiro Nobel sul-americano foi para quem incentiva ações belicosas, cronista. E, justamente, o Nobel da Paz!

Desconfio que o criador da honraria deva estar se revirando no seu túmulo sueco em Estocolmo...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Nem sempre ganhando...


Nem sempre ganhando...

Texto e foto  Valéria del Cueto

Hora de parar o mundo para dizer a que vem aí. Mais uma crônica! Só assim tenho o estímulo necessário à escrevinhação, como sempre, no caderninho. Tenho prazo, espaço e vontade de exercitar o direito de dizer. Falar de quase nada no meio de muito tudo não é fácil.

Me desligar de tanta informação eu até sei. Mas nem para você, leitor, nem para mim - que do meio do mundo vejo o dito cujo se exaurindo em conflitos, dores e muito, muito desamor-, a tarefa é simples.

Sei que existem os que como eu, perplexos diante de tanta brutalidade, ainda procuram formas de, mesmo que indiretamente, interferirem no rolo compressor que parece incontrolável movido pela maldade humana. Atualmente, pra piorar, turbinado pela força motriz generativa da inteligência artificial que se multiplica a nossa imagem e semelhança. E que imagem, que semelhança!

Por isso acho que, como no caso dos que procuram estímulos para mudar essa vibração, também preciso de ajuda para sair, por exemplo, das águas turvas da flotilha que tenta chegar a Gaza com alimentos e a ajuda médica para aliviar o sofrimento dos palestinos, reféns involuntários do governo de Israel, sob as ordens de Netanyahu.

Quando se trata de genocídio volto à leitura de “Mila 18”, de Leon Uris. A história se passa no gueto de Varsóvia, sob o domínio alemão. Descreve o terrível cotidiano dos judeus na capital da Polônia ocupada.

Agora, os algozes são aqueles que foram vítimas no século passado, durante a Segunda Guerra Mundial. A diferença são os métodos, ainda mais cruéis, de extermínio.

Pra escrever preciso sair desse turbilhão de horrores que se multiplicam, sem tanta exposição e mídia, em outras partes do globo.

No meu pedaço o céu é o limite! Olhando pra ele sem nenhuma nuvem, me inspiro nas florezinhas amarelas na ponta do ipê meio raquítico, sem nenhuma folha, oscilando preguiçosas ao vento nesse início de primavera, suavemente lânguidas, animadas pelo balanço dos galhos. Sigo o movimento de uma das flores bailando solta, caindo na direção do rio. Não foi a brisa que a derrubou. Consigo ver um passarinho, inho,inhozinho brincando na galharia.

Aqui embaixo o som das águas do rio, meio seco devido a falta de chuvas, vem do resmungo preguicento do fluxo deslizando entre as pedras em seu leito. O sol não está mais a pino. Mesmo assim seu calor espanta a passarinhada que prefere descansar a sombra e só recomeçar a movimentação mais tarde.

Por uma questão de justiça climática esclareço que por mais abafado que seja o clima no meio do mundo não é nada comparável as temperaturas de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, (quente desde sempre no verão), e de Cuiabá, onde o que já era insalubre está ficando cada vez pior com a valiosa e insuperável colaboração, por exemplo, dos responsáveis pelas obras intermináveis do VLT/BRT.

Aí, mesmo sem querer cair novamente no redemoinho dos acontecimentos, me lembro do filme de Spike Lee, “Faça a coisa certa”, que narra os acontecimentos de um dia de calor insuportável no Harlem, em New York....

Mais um movimento no entorno! Graças a Deus, ele desvia o rumo da prosa antes que ela caia no buraco negro dos desastres climáticos. Aqueles que serão temas da COP 30. Claro que nela, o principal será as buscas por caminhos e soluções para mitigar a crise. O que se faz apontando e alertando sobre os problemas crescentes que exaurem o planeta.

Voltando às miudezas, essa nem tão miúda assim, o que me distrai é um dos vizinhos da Mata Atlântica. O lagarto teiú cruza a estrada de terra que liga o nada ao lugar nenhum aqui no meio do mundo. Ele me ignora solenemente passando pro terreno e se desviando do tapete de pitangas perpitolas que caíram da pitangueira com a ventania da manhã.

Elas estão merecendo uma varrida que só acontecerá quando os passarinhos e borboletas, animados pelo ciciar das cigarras, avisarem que a temperatura vai dar um refresco no cair do sol atrás do morro do outro lado do rio.

Terei pouco tempo para varrer o pitangal salpicado no deck e jogar uma água nas plantas. Das miudezas, que envolve uma conversinha com as plantinhas preferidas, parto para uma missão quase universal: torcer pelo meu Flamengo, que ocupa o primeiro lugar na tabela do brasileirão.

Enfim, apesar dos pesares, esse domingo ainda pode ser quase perfeito. Mas isso, como outros fatores da vida, não depende só de mim...

PS: Deu ruim. Depois de duas expulsões, o Mengão perdeu só de 1X0 para o Bahia. Agora, somos vice-líderes do campeonato. Sorte que ainda faltam 11 rodadas para o final do torneio!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

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