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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Passagem, da Ponta




Bom, diante das circunstâncias resolvi não arriscar na passagem do ano, mas não resisti. Mudei o ângulo do espetáculo dos fogos em Copacabana novamente.

Já havia assistido e fotografado a meia noite do Caminho dos Pescadores há dois anos atrás. Agora queria aprimorar o manuseio dos equipamentos de captação de fotos e de víde o. Aqui está o resultado parcial da empreitada. Começa na tarde do dia 31, com um tempinho muito chato e sem direito a
um por do sol de despedida.

Perto da meia noite choveu, justo quando fui para o Caminho dos Pescadores, na Ponta do Leme. Quando acabei a produção para gravar as imagens, minutos antes dos fogos que anunciavam o ano novo, a chuva parou. Isto me fez passar a virada vestida de capa de chuva. Me senti super protegida pelo ano todo...

Depois aproveitei para ir fazendo algumas fotos de personagens típicos que fui encontrando. O material era farto, já que a Ponta virou o ponto de encontro de grupos de motociclistas para comemorarem o ano novo. No próximo reveillon, já conhecedora da programação especial, se tudo correr bem, vou chegar mais cedo e com autorização prévia registrar devidamente as comemorações da rapaziada.

Terminei esta virada no São Sebastião, onde resolvi homenagear o staff da casa que me recebe tão bem o ano todo. Pedrinho, o chef patron, desistiu do avental e aproveitou para se confraternizar com o Coutinho, do famoso bar que leva seu nome na fachada, mas tem uma placa que diz: Imperador
do Leme....

Texto e fotos de Valéria del Cueto, para Série Ponta do Leme, no Sem Fim...

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

SABIÁ VERMELHA, PLENA DE GRAÇA... E DE LUZ!



Arvoredo da esquina
07/10/2005

Agora quem vai é Tereza. Albues. Eisenstat. Ela é Pedra Canga, da Chapada da Palma Roxa. Sua Travessia dos Sempre Vivos é o Berro do Cordeiro em Nova York. Foi lá que a conheci. Tereza me apresentou ao Brooklin, me enfurnou em Manhattan, me abrigou na casa de Marcelo Fiorini, antropólogo brasileiro que, hoje, creio mora em Paris.
Mas de tudo que Teresa me mostrou nesta viagem em que fui bater com os costados em sua casa indicada por Glorinha Albues, sua irmã, o mais surpreendente foi sua obra. Gastei em dólares para, nos EUA, ter o prazer de retornar a Mato Grosso através da literatura de Tereza. Uma tarde, no jardim de sua casa, depois de uma garrafa de vinho, acompanhada de queijos e salmão, deitada num banco, lagarteando no sol pálido que tentávamos capturar, ameacei o que ela pensou ser um protesto sobre esta situação. Tereza me olhou e perguntou por que não deixava para ler os livros quando retornasse ao Brasil. Tive que rir…
O primeiro livro que abri, pensando em ler apenas a dedicatória, era “Pedra Canga”. Comecei e não parei… Li em viagens de metrô, em lanchonetes de museus como o Metropolitan, li na fila para comprar ingressos para o Stoomp. Só não li na Exposição que fui com Robert, seu marido, ao Guggenhein.
Esta exposição comemorava os 100 anos de uma das minhas maiores paixões: motocicletas. Fomos no último dia. Ali, a força das histórias de Teresa foi substituída pelos cavalos dos motores da coleção de todos os tipos de máquinas expostas dentro e fora do museu. Ali havia centenas de motocicletas de aficionados que visitavam a exposição e roncavam seus motores desfilando pela beira do Central Park. Quando fecho os olhos, consigo ouvir o ruído dos motores, como uma sinfonia. Assim é a obra de Teresa. Uma parte, lemos. Outra, apenas sentimos e guardamos… E esta sensação, este sentimento profundo, perdura na nossa imaginação.
Quem me deu a notícia que Tereza tinha partido, foi André Mux. Tanto carinho teve nosso amigo ao fazê-lo, que também me indicou o lenitivo, o remédio para aplacar a dor e consolar a alma de todos aqueles que estão, como eu, com um grande vazio pela partida de Tereza. André me mandou ler a última página do “Berro do Cordeiro em Nova York”, publicado em 1995. E é a própria Tereza quem nos dá a dimensão de quem é, e para onde vai.
“A vibração da última corda da harpa, até agora emudecida, sobrepõe-se aos ruídos da manhã novaiorquina, enchendo o ar de melodias antanhas, algumas já esquecidas, nos subterrâneos de mim, quase não as reconheço. A corda é tensa, dolorida, fere o dedo que a dedilha, fere a si mesma na aspereza de sua textura. Ainda assim o som irrompe, pujante, profundo, suavizando o agreste da alma que o compõe. Meu cântico de liberdade ainda não está completo, mas a cerimônia da visitação do sol me confirma que neste instante meu destino entrou em comunhão com as energias da terra onde nasci. Ao solo norte se junta o solo sul em louvores à mãe Terra, uníssonos. A nova música me cobre de glória íntima solto-a no espaço, espalha-se ruidosa no céu como bandos de aves do cerrado em migração. Que de repente, surgem no horizonte, alvissareiras. Bato asas velozes, gorjeio, vôo ao encontro das antigas companheiras, palpitante. Nas águas espelhadas do rio Hudson, a imagem arisca. Da sabiá vermelha cruzando os céus de Manhattan, plena de graça e luz.”
Assim é Tereza Albues Eisenstat, uma mato-grossense iluminada, em qualquer lugar em que se encontre…
*Valéria del Cueto é jornalista e cineasta.