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quarta-feira, 13 de outubro de 2021

O que foi


O que foi

Texto, foto e vídeo de Valéria del Cueto

Tudo na mão. Caderninho, caneta, livro (se a inspiração rateasse). Lá fora é cinza e chove. Solidão. O silêncio barulhento do mato. Café tomado, distância do celular, computador, das redes sociais que aprisionam e viciam.

Tudo pronto, nada preparado. Ou vice-versa. No pé da ladeira o córrego respira e festeja depois da estiagem. Chuva encharcada, bastante e constante. Antecedida pela entrada dramática da comissão de frente com nuvens pesadas e ligeiras tocadas por ventos carrascos prenunciando raios e trovoadas.

Agora não. Tudo é suave. Várias texturas sutis se distinguem a um olhar atento produzindo muitas imagens. Deixados de lado, caderninho, apetrechos e opcionais se retiram da pista para largar desocupados mãos e olhares para o que descortina.

O alerta veio do pé de jacarandá, só galhada, já dramático no rendilhado ressecado na pesquisa visual ainda no inverno, lá por meados de agosto. De lá para cá, como performance da comissão de frente de raios e móveis sendo arrastados por São Pedro enquanto lavava o céu, na chegada da primavera, a retorcida figura do jacarandá começou a se transformar.

Esse não é um clima comum em outubro. É a máxima que define a prioridade de ação no quesito “registrar”. “O que foi nunca mais será”, já avisavam Mario Barbará e Sérgio Napp, em “Desgarrados”, vencedora da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, nos idos de 1981. Homens e natureza.

Câmeras nas mãos, é observar. Se a chuva diminui os passarinhos se manifestam, caso contrário, é se deixar embalar com o canto animado do Córrego das Mulatas e o chiado das chuvas miúdas. Contra o céu enevoado parece que é só. Mas tem mais. Dependendo da intensidade das chuvas, se formam as gotas nos ramos das árvores, aquelas que florescem e brotam aliviadas da secura da terra.

A nova vida que explode nas filigranas acolhe a delicadeza das gotas que vão se formando vagarosas e, de tempos em tempos, despencam sobre o peso da água acumulada para saciar a sede da floresta.

As lágrimas nas árvores da Mata Atlântica são captadas quando outro som se sobrepõe. Os passarinhos não passeiam barulhentos na galharia e na ponta da varanda as correntes da calha chacoalham com o peso do aguaceiro no telhado. Chove com mais intensidade. A imagem é linda, incluindo o movimento da água descendo desobediente esparramada em volta dos elos de ferro. Tem drama, é forte, orgânica e, quem sabe, única.

Imobilidade para capturar a dança na corrente. Minutos contados com a memória para ter noção do tempo, como nos games da vida virtual que aprisiona nossa imaginação e doma a atenção de quem opta pelo mergulho existencial nos subterrâneos digitais.  

O olhar, antes focado, vagueia pelas curvas do vale. Da força do ferro que guia a água do telhado, novamente para as lágrimas brilhantes do orvalho da chuva. Então, passeando, ele alcança o jacarandá.

Da cor escura, verde esmeralda da ressurreição da natureza, se veste de prateado como um destaque do primeiro setor no desfile da primavera. Suas folhas, minúsculas, resplandecem do orvalho salpicado na parte superior dos ramos mais altos. Como a luz não reflete nas folhinhas de baixo, formam-se desenhos, renda delicada de um manto resplandecente. Aquele que cobre e protege, ou tenta, sua fonte de energia natural.

Para fechar, a boa notícia. Depois da vida levar, surgiu esse relato da chuva que, parece, vai perdurar por uns dias. O que abrirá espaço para cumprir a terceira missão. Mergulhar na leitura do livro quase esquecido. Isso, se a natureza não chamar novamente...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com



@delcueto.studio na Colab55

domingo, 16 de setembro de 2018

Birds and seeds no Studio @delcueto #redbubble



Birds and seeds no Studio @delcueto #redbubble

Outono/inverno 2018/2019 a caminho no Studio@delcueto  para vendas internacionais pela plataforma redbubble. Novos produtos e muitas opções exclusivas. A coleção é Birds and seeds.  Objeto da comtemplação em mais uma viagem ao Centro-Oeste brasileiro.

Por aqui você já viu passar  Surf´s window, coleção na sintonia do verão 2018 do hemisfério norte, Solo, Bamboo, Wings of Brazil e Signal.



Origem: paciência e observação

Imaginem um jardim urbano que atrai todos os tipos de pássaros que circulam pela capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, no Centro Oeste do Brasil.

Se posicione, quase sumindo no cenário embaixo das árvores e aguarde um bem-te-vi, acostumado ao ambiente, vir beber água na piscina.

Acima de sua cabeça, do outro lado do muro,  um jacarandá, cujos galhos ressequidos ainda se recusam a deixar brotarem suas novas folhas, após o outono.

Uma última casca, contendo as sementes da árore sesiste depedurada no meio da galharia visitada por sabiás e outros tipos de aves.

Aguarde, com toda a paciência, que aos passarinhos se aproximem e se posicionem. Depois de várias formações, e disparos, o clique ideal...

Golden Gate, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, 12 de setembro de 2018.
As fotos fazem parte do acervo de Valéria del Cueto.
#valerio2018



Concepção

Foi só tirar, sem por nenhum elemento extra. O que era o céu azul, apesar do dias cinzentos, graças a ação das queimadas no entorno das cidades no calorento centro oeste brasileiro, coração da América do Sul, foi detalhadamente vazado. Pacientemente observado. Minimalisticamente reduzido a pássaros, sementes e galhos.

A delicadeza e o equilíbrio da imagem dispensa o acrécimo de cores. A sutileza da cena alegra por sí só. A mensagem de renascimento explícita para quem detiver o olhar.

A opção inicial é a ocupação ilimitadado espaço das peças produzidas. Sem cortes ou repetições, como a vida. Efêmera, impossível de ser retrocedida, mas inesquecível.

Detalhe: o #redbubble oferece mais de 50 opções de produtos!



Explore nosso novo canal de vendas, clicando AQUI e de qualquer lugar do mundo tenha a seu alcance produtos exclusivos do Studio@delcueto desenvolvidos dos registros fotográficos de Valéria del Cueto

No Getty Images

Outras imagens produzidas estão na coleção Sem Fim… de Valéria del Cueto no Getty ImagesExclusivas do banco de imagens , elas também estão a venda!

Conheça também o hub brasileiro na #colab55 do  Studio@delcueto

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Studio na Colab55

segunda-feira, 30 de março de 2009

Recuerdos, lembranças e uma certeza: voltarei


Recuerdos, lembranças e uma certeza: voltarei....



Texto de Valéria del Cueto
Foto do acervo de João Carlos da Nova
Consegui, a muito custo, voltar à beira mar, minha ponta de pedra visual aqui no Leme, Rio de Janeiro.
Mesmo assim, continuo por aí, andando pelas ruas da cidade, explorando os recantos uruguaianenses. Nem bem saí e já listava na memória as coisas e lugares que ainda preciso visitar, espero que em breve.
Isso mesmo. Minha pesquisa sobre Passarinho mal começou. Quero mais! Como saber o que há sobre ele nos arquivos da TV Uruguaiana, agora TV RBS. Apesar do meu esforço, não consegui checar com a Maria Helena o material existente, gentilmente levantado pela gerência local. (A falha, que fique clara, foi minha. Me enrolei entre as idas e vindas da última edição do Tribuna). Foram eles que me indicaram outro caminho possível, já que RBS, de Porto Alegre comprou a Leopoldo Som, pra quem o material das Califórnias gravado em vídeo (e que Luciano Maldonado cuidou com desvelo e muito cuidado), foi entregue creio que ainda no milênio anterior.
Também fiquei de voltar ao Arquivo Público Municipal, no Centro Cultural, ali na praça, onde achei parte do material publicado sobre César Passarinho. Foi lá que encontrei o enredo feito pela Academia de Samba “Os Cevados”, em 1999. No enredo Passarinho, carnaval e nativismo, mais uma vez meu amigo "passarou" pela avenida, agora como homenageado. Como terá sido o desfile? Será que existem fotos?
Também preciso garimpar nas pastas de cada Califórnia. Sorte que o arquivo é muito bem organizado. Por isso sei das múltiplas possibilidades que me esperam na minha próxima visita a Uruguaiana.
Na verdade, existem muito caminhos para encontrar registros e testemunhos espalhados por aí. Pequenas histórias, fragmentos que compõem um mosaico de lembranças a serem catalogadas.
Mas sinto que comecei bem, com a ajuda de todos os que “buscaram” comigo, por exemplo, a gravação de Passarinho puxando sambas de enredo dos Rouxinóis.
Quem começou foi a Juca, carnavalesca de fé que, aos dois anos já ia para a esquina de sua casa, embalada pelo batuque dos ensaios no Laço do Amor. Eita memória, a da guria.
João Carlos da Nova e seu pai, o Zé da Nova, procurando a gravação encontraram a foto de Passarinho criança, posando com um grupo junto ao estandarte da escola do seu coração. Passamos por tia Regina, tia Gilda e finalmente, Magda Gonçalves, a fiel guardiã da gravação que procurávamos: o CD comemorativo dos 50 anos dos Rouxinóis. Todo mundo ajudou.
Conto essa epopéia pra você, leitor, para sensibilizá-lo em relação ao apelo que faço a seguir: Revire seu baú, dê asas às suas lembranças e me ajude a encontrar outras pequenas peças do mosaico que foi a trajetória de Passarinho entre nós. Vale tudo: fotos, áudios, lembranças, histórias e impressões.
Até a primavera quando, espero, voltarei novamente a estes pagos.
PS: Aguardo sua colaboração. É fácil me encontrar pelo email delcueto.cia@gmail.com
Esse é o player da gravação mencionada no artigo:




Texto de Valéria del Cueto para série  Fronteira Oeste do Sul