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domingo, 8 de setembro de 2013

Turista e/ou viajante



Texto e foto de Valéria del Cueto
Cansaram de Paraty? Cansa não. Ainda tem um tanto pra contar. Melhor que meditar sobre os últimos acontecimentos, não é? Quer saber? Não há luz no fim do túnel. E, dito isso, vamos procurar novos interesses para aplicar as energias.
Viajar é sempre bom ainda mais quando há tempo para abordar o lugar por uma perspectiva não apenas “standard”, mas também conhecer o ritmo de vida dos locais. Depois de muito analisar, começo a chegar a brilhante e nada inédita conclusão que existem dois tipos distintos: os turistas e os viajantes. Acho que me enquadro no segundo sem, de maneira nenhuma, desmerecer o primeiro.
Engraçado é que essa atitude é quase igual a andar de bicicleta. Depois que a gente descobre, vicia. Não consigo sossegar enquanto não interajo com moradores, exploro seus desejos, convivo com seu dia-a-dia. Só fazer turismo não me satisfaz.
Normalmente começo no próprio lugar em que me hospedo ao descobrir que a encarregada do café mora longe e preferia o sistema de saúde da cidade grande. É lá que fico sabendo da peregrinação pelos supermercados, em busca das ofertas e preços baixos.
Ainda é pouco, mas já dá pra começar. Andando pelo point do comércio fica explícito o domínio de estrangeiros competindo com franquias da Richard’s e outras marcas de lojas que existem em qualquer shopping. Dizem os locais que tem um grupo comprando um quarteirão inteiro do centro histórico.
Engraçado é que parecem que eles chegam em levas. Artistas abrem ateliês, profissionais liberais estabelecem seus negócios. Argentinos, muitos argentinos. Um francês aqui, outro ali.
Saindo um pouco da área mais valorizada, encontrei os nativos. Pra falar a verdade, comecei minha busca num local bem óbvio: na Casa da Cultura, conversando com os funcionários. Ali, descobri que as duas livrarias e a revistaria do centro histórico são da mesma dona. Gostei do que vi nas prateleiras.
Também fora da muvuca fica o Teatro Espaço onde o “Grupo Contadores de Histórias” fez a sua e se tornou referência internacional no teatro de bonecos, num trabalho de mais de 30 anos.
No penúltimo dia de viagem, por causa da maré alta que invade as ruas centenárias, descobri o tamanho da loja que vende os produtos feitos pelos pescadores artesãos do Saco de Mamanguá. Quer ver as fotos? Aguarde uma próxima viagem porque, ao descobrir o caminho por dentro da loja, que vai de um quarteirão ao outro, fui soterrada de informações e imagens e preferi deixar pra explorar tanta riqueza numa próxima oportunidade. E já aviso. É lindo, exuberante e surpreendente!
Mais lindo porque, ao contrário dos barcos no porto, a maioria mantem suas cores tradicionais e puras: o azul, amarelo, vermelho e verde. O que já não se verifica no porto. Ali fui surpreendida com uma releitura do colorido das embarcações: cor de rosa, lilás, fúcsia, verde água... Segundo um marujo, o dono de um barco inventou a novidade atraindo os turistas que procuram passeios marítimos e um monte de outros barqueiros a seguiram. Virou moda. Sinceramente? Não sei não. Espero que a onda passe.
A busca da viajante não privilegia os atrativos turísticos, mas também não os exclui quando eles surgem diante das lentes fotográficas. Foi assim com a maré que me levou ao abrigo da loja de barcos. Primeiro ela se espelhou, com ares de “resista, se for capaz”. Não resisti.
Assim como não pude fazê-lo diante da cena do artista que pinta os recantos da cidade. Para meu deleite e- espero – seu também.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

domingo, 5 de agosto de 2012

Sinais, sintomas e tais

Sinais, sintomas e tais

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Um, dois, três e... já! Respirar fundo e deixar as radiações do sol se expandirem pela extensão da pele exposta ao seu calor aconchegante.

Ao longe a lancha cruza o mar como se fosse beijar a pedra que se projeta na quina do Caminho dos Pescadores. A ilusão perfeita dura apenas alguns segundos até o barco sumir em direção a entrada da Baia de Guanabara.

Acima, quase na linha do horizonte, os navios de grande calado aguardam a maré alta para passarem pelo canal estreito que leva ao movimentado porto do Rio de Janeiro. Abaixo, ondas quase perfeitas são cenários ideais  para os surfistas que deslizam entre os topos de suas cristas.

Hoje está tudo normal.

A bandeira do Brasil tremula em direção ao mar indicando os bons ventos que dominam e limpam o céu pontilhado de gaivotas.

A prancha com o bico cravado na areia e as quilhas projetadas na direção do leme, formato que dá nome à pedra, insinua o alinhamento dos sentidos e sentimentos literários do texto que ora redijo.

Atrás de mim, uma voz masculina com sotaque nordestino recita uma oração (nos dois sentidos) comum aos que, durante as férias, ancoraram nessa paragem: “Ô vidinha mais ou menos... Estou no Rio de Janeiro! Hoje, aqui no mar. Amanhã  vou no Cristo.” Prefiro não olhar na direção da declaração de amor e deixo a imaginação desenhar o dono da voz e suas companhias.  No mínimo, mais uns três, dois homens e uma mulher.

Faça o mesmo, brinque de imaginar como são.

À frente vejo um atleta fazendo abdominal para cultivar sua barriga de tanquinho. O tempo do exercício e a lisura da taboa indicam que ele não é do tipo que não sabe o que faz. Faz, e muito.

Sinto falta dos peladeiros que só adentrarão no campinho mais tarde, depois que as ondas perderem seu formato mais que perfeito. As ondas variam, têm seu sabor e valor, sobem quando querem. A pelada é de lei. Pode demorar, mas rola. É inevitável, necessária e essencial.

Como o fato de hoje ser sexta feira e cá estar eu, enquanto posso, na Ponta do Leme. Estou mais pra onda do que para partida de futebol, com suas duas carcaças de coco verde servindo de traves em lados opostos do campo a beira d’água.

Estou na linha, junto com as pranchas de surf e bodyboard esperando a onda perfeita, entre as sete representantes das séries fortes que se seguem as séries fracas, desde que o mar é mar.

Por princípio e experiência gosto muito da segunda onda da série. Deixo a primeira para os afoitos e suas pranchas maravilhosas e assisto de camarote o espetáculo enquanto sinto seu empuxo nas pernas e localizo o melhor ponto para surfar de peito na próxima que desce, já no embalo da série em questão.

Ela tem o equilíbrio da força inercial explosiva da primeira ondulação e a constância das que virão na sequência. Dá para remar, se jogar, deslizar e descer, ainda com direito a manobras clássicas pelo caminho desimpedido, sob o olhar cuidadoso dos experts que retornam para além da arrebentação para caitituar novas descidas, quem sabe ainda nessa mesma série de ondas fortes.

Onde eu estava mesmo?

Aqui, registrando os sinais que também passeiam pelas nuvens. Rápidos e inconstantes, mas visíveis para quem, deslizando na espuma formada na crista da onda que explode em direção da praia, a da Ponta do Leme, ainda consegue levantar os olhos salgados da água do mar para o céu azul que se esparrama e surpreende com seus desenhos fugazes. Um segundo, um olhar, passou...

*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série “Ponta do Leme” do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

Sinais, sintomas e tais

Sinais, sintomas e tais

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Um, dois, três e... já! Respirar fundo e deixar as radiações do sol se expandirem pela extensão da pele exposta ao seu calor aconchegante.

Ao longe a lancha cruza o mar como se fosse beijar a pedra que se projeta na quina do Caminho dos Pescadores. A ilusão perfeita dura apenas alguns segundos até o barco sumir em direção a entrada da Baia de Guanabara.

Acima, quase na linha do horizonte, os navios de grande calado aguardam a maré alta para passarem pelo canal estreito que leva ao movimentado porto do Rio de Janeiro. Abaixo, ondas quase perfeitas são cenários ideais  para os surfistas que deslizam entre os topos de suas cristas.

Hoje está tudo normal.

A bandeira do Brasil tremula em direção ao mar indicando os bons ventos que dominam e limpam o céu pontilhado de gaivotas.

A prancha com o bico cravado na areia e as quilhas projetadas na direção do leme, formato que dá nome à pedra, insinua o alinhamento dos sentidos e sentimentos literários do texto que ora redijo.

Atrás de mim, uma voz masculina com sotaque nordestino recita uma oração (nos dois sentidos) comum aos que, durante as férias, ancoraram nessa paragem: “Ô vidinha mais ou menos... Estou no Rio de Janeiro! Hoje, aqui no mar. Amanhã  vou no Cristo.” Prefiro não olhar na direção da declaração de amor e deixo a imaginação desenhar o dono da voz e suas companhias.  No mínimo, mais uns três, dois homens e uma mulher.

Faça o mesmo, brinque de imaginar como são.

À frente vejo um atleta fazendo abdominal para cultivar sua barriga de tanquinho. O tempo do exercício e a lisura da taboa indicam que ele não é do tipo que não sabe o que faz. Faz, e muito.

Sinto falta dos peladeiros que só adentrarão no campinho mais tarde, depois que as ondas perderem seu formato mais que perfeito. As ondas variam, têm seu sabor e valor, sobem quando querem. A pelada é de lei. Pode demorar, mas rola. É inevitável, necessária e essencial.

Como o fato de hoje ser sexta feira e cá estar eu, enquanto posso, na Ponta do Leme. Estou mais pra onda do que para partida de futebol, com suas duas carcaças de coco verde servindo de traves em lados opostos do campo a beira d’água.

Estou na linha, junto com as pranchas de surf e bodyboard esperando a onda perfeita, entre as sete representantes das séries fortes que se seguem as séries fracas, desde que o mar é mar.

Por princípio e experiência gosto muito da segunda onda da série. Deixo a primeira para os afoitos e suas pranchas maravilhosas e assisto de camarote o espetáculo enquanto sinto seu empuxo nas pernas e localizo o melhor ponto para surfar de peito na próxima que desce, já no embalo da série em questão.

Ela tem o equilíbrio da força inercial explosiva da primeira ondulação e a constância das que virão na sequência. Dá para remar, se jogar, deslizar e descer, ainda com direito a manobras clássicas pelo caminho desimpedido, sob o olhar cuidadoso dos experts que retornam para além da arrebentação para caitituar novas descidas, quem sabe ainda nessa mesma série de ondas fortes.

Onde eu estava mesmo?

Aqui, registrando os sinais que também passeiam pelas nuvens. Rápidos e inconstantes, mas visíveis para quem, deslizando na espuma formada na crista da onda que explode em direção da praia, a da Ponta do Leme, ainda consegue levantar os olhos salgados da água do mar para o céu azul que se esparrama e surpreende com seus desenhos fugazes. Um segundo, um olhar, passou...

*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série “Ponta do Leme” do SEM FIM http://delcueto.multiply.com