quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Meninos, eu vi!


MENINOS, EU VI!
Texto de Valéria del Cueto
aqui fotos que correspondem aos fatos
 Amigos parceiros e voyeurs do meu posto de observação na Ponta do Leme. Cá estou a lhes trazer meu testemunho ilibado sobre uma raridade nestes dias derradeiros que antecedem o carnaval: Faz...SOL!!!!
Isso mesmo. Contrariando até as previsões mais otimistas, o astro rei resolveu, num surpreendente e sensacional ato de recuperação física e moral, dar o ar de sua aguardadíssima graça no verão carioca.
Ele está assim, maneiro, como dizem no interior. Diferente e imprevisível.
O dia amanheceu daquele jeito. Nublado, chuvoso e chato. Os jornais anunciavam as previsões meteorológicas mais  negativas possíveis: de chuvas, ventos e ciclones para as próximas horas, dias, pro carnaval inteiro.
Aí, ele resolveu aparecer. E pegou de surpresa todo mundo.
É... quando a gente chega na praia e não vê uma única sombra de barraca, nem seus respectivos barraqueiros, até onde vistas menos míopes que as minhas alcançam, é sinal de que nem um mormaço clássico fazia parte das  previsões do povo da areia que atende diligentemente aos banhistas, no caso em pauta, tão escassos quanto ele. Onde não há procura, não há oferta.
A faixa de areia que atravesso em direção a beira da praia está quase virgem de pegadas humanas. Está marcada pelos pingos da última chuvinha chata e pelos três palitinhos que forma as pegadas dos pombos que insistem em ciscar no pedaço, mais persistentes do que eu.
Meus amigos, ilhéus lá do Brandão, me ensinaram que um fenômeno marítimo sempre acontece nesta época do ano. Trata-se da ressaca de carnaval, que temporada após temporada, turva as águas claras e transparentes da baia de Angra do Reis, onde sonho em mergulhar, um dia, novamente.
A ressaca anual, desconfio, está diante de mim na tarde que cai aqui na Ponta do Leme, para alegria dos surfistas. Eles se atiram paredão abaixo, sem o menor pudor. O pico não é no canto da Pedra do Leme, o mais almejado pelos especialistas da área, mas está alto e desafiador. Somos só nós. Pranchas, bicicletas, surfistas e eu.
Não vai dar tempo para uma reação dos turistas entediados, que nos últimos dias serpenteiam pelo calçadão com olhos compridos em direção ao mar. Até eles se darem conta do que já aconteceu e espanarem a inércia modorrenta que se abate sobre suas almas inquieta,s a festa já acabou.
Mal deu tempo para escrever este relato, descrevendo o milagre quase particular que presencio e usufruo.
Está tudo quase cinza novamente, exceto por uma barra azul da cor mais límpida do céu, que enfeita o horizonte por cima do mar. É a prova que preciso para os que acham que aqui, na Ponta do Leme, a gente costuma delirar e ver miragens de verão, em pleno janeiro, aqui no Rio...

Valeria del Cueto é jornalista e cineasta
liberado para reprodução com o devido crédito

Este artigo faz parte da série Ponta do Leme

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