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domingo, 15 de dezembro de 2013

Naquela janela, é ela?

Verona 1301025 059 Castelvecchio Madona Giovanni Francesco Caroto menino com desenho lindo
Texto e foto de Valéria del Cueto
É ela, a janela e seu balcão, o maior destaque turístico de Verona, a cidade italiana que teria sido fundada pelos celtas sabe-se lá quando e, em 89, viraria colônia romana.
Fica incrustrada numa vila da Via Capelo, onde morava  a doce Julieta, a enamorada de Romeu. Dali a jovem escuta umas das mais célebres juras de amor da literatura. É por ali que sobe o amante apaixonado e, no quarto, após uma noite juntos, ouve da amada os famosos versos de William Shakespeare: “Já vai embora? Mas se não está nem perto do amanhecer! Foi o rouxinol, não a cotovia que penetrou o canal receoso do teu ouvido. Toda noite ele canta lá na Romãzeira. Acredite-me, amor, foi o rouxinol.”
Hoje o pátio da vila é quase um cenário de Disneylândia e o coitado do Romeu jamais poderia encantar sua amada com suas palavras no meio da multidão que acorre ao lugar. Ele certamente também não ia gostar dos homens que tiram foto pegando nos seios da estátua que homenageia sua amada. Corria o risco de ter outras ordens de prisão contra ele, como a que desencadeia a tragédia teatral!
Verona 1301025 015  Juileta na sacada
É muita gente de todos os lugares do mundo lotando o pequeno espaço e procurando novos ângulos para fotografar os mais incríveis tipos de turistas que passam pelo balcão, mediante uma módica quantia para entrar na casa.
É uma injustiça que essa seja a referência mais comum ao se falar de Verona, próspera capital do então ducado Lombardo, detentora de tesouros artísticos e declarada Patrimônio Histórico da Humanidade por sua arquitetura e urbanismo integrado.
Não é só centro da área histórica, onde se destaca imponente a Arena Romana e outras preciosidades, que guarda tesouros artísticos e points gastronômicos e de compras fora do circuito da via Manzzini.
Verona 1301025 063 Enocibus restaurante VeronaBasta sair poucas ruas para fora deste miolo para descobrir lugares como o Enocibus, surpreendente restaurante, na Vícolo Pomodoro, uma ruela silenciosa no entorno da zona nervosa e sempre lotada de animados grupos turísticos que passam como ondas.
A surpresa começa pelo fato de sermos recebidos depois da hora de fechar, normalmente às 3 da tarde. Foi apenas uma tentativa (de sucesso), entrar e perguntar se ainda atendiam naquele horário, a porta para um tratamento quase incomum de acordo com a conhecida fama italiana de mal tratar os clientes, quase como no Bar Lagoa, no Rio de Janeiro. A simpatia do casal é deliciosa e a formalidade fica de lado num ambiente acolhedor e bem decorado. Tudo isso deixa a comida e o vinho típico da região ainda melhor, se é que isso é possível...
No quesito obras de arte, Verona, deteve, por um período, a supremacia artística de toda a península italiana (Verona é incorporada a Itália em 1866). As obras estão espalhadas por excelentes museus, caso do castelo medieval que abriga o Museo di Castelvecchio, um passeio por diferentes períodos do romano ao medieval e romântico. (Depois de pencas de representações com temática religiosa como virgens, anjos e cenas sacras, é instigante se deparar com o quadro “Menino com desenho de fantoche”, do artista Giovanni Franchesco Caroto que viveu em Verona entre 1480 e 1555 que faz parte da coleção do museu).
Novamente, a receita que mistura obras antigas com mostras contemporâneas é aplicada para valorizar ainda mais o espaço e garantir a visita de todos os tipos de apreciadores das artes. Desta vez de maneira radical com a mescla, entre as peças distribuídas pelos salões da exposição permanente no Castelvecchio, das bolhas que caracterizam as obras expostas do artista contemporâneo Giorgio Vigna na mostra “Stati Primitivi” que pode ser vista até o dia 6 de janeiro.
Verona é muito mais que a cidade do balcão de Julieta...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
ILUSTRADO DOMINGO

domingo, 8 de dezembro de 2013

Tiro ao alto

Milano131111 017 Duomo tiro ao altoTexto e foto de Valéria del Cueto
Sabe tudo aquilo que os moradores conscientes cariocas lutam para que não aconteça na Cidade Maravilhosa com a realização de grandes eventos, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas de 2016, como distribuição indiscriminada e desembestada dos espaços públicos para a propaganda de seus patrocinadores, aquela que polui e adultera o visual do Rio de Janeiro? 
É o que acontece em Milão, na Lombardia, Itália, nesse momento. É um exercício físico e mental tentar fotografar a parte central da cidade sem que apareça uma profusão de fachadas, propagandas e marcas – famosas pelos produtos e bregas no posicionamento de suas logos e fachadas. Idênticas as que pululam em shoppings, malls ou ruas “famosas” de qualquer cidade do mundo.
Por cima disso, pelo menos mais duas camadas da cebola decorativa que vai transformar as imagens captadas no centro milanês em autênticas torres de babel ou lançar o autor das imagens num desafio feroz para tentar esconder a poluição visual invasora. A primeira camada é a dos totens e bandeiras da futura Exposição Mundial de Milano, em 2015, espalhadas pelas ruas. A segunda, os telões e reclames colocados em locais como o Duomo di Milano, a sensacional Catedral de Milão.
Sua construção começou em 1.386 e foi concluída por ordem de Napoleão Bonaparte (olha ele aí de novo!) em 1813, cinco séculos depois - claro que ela vive precisando de conservação, mecenas e contrapartidas para as obras de sua restauração, assim como os outros  monumentos históricos e religiosos da cidade.
O Duomo... o Duomo é lindo e arisco, por que fotografá-lo é uma arte. A arte de tentar esconder as “intervenções” que poluem, por exemplo, o lado esquerdo de sua imponente fachada em estilo gótico francês, com um imenso telão povoado de vídeos dos queridos patrocinadores da obra. Lá se foi a chance de um registro integral do monumento.
Para quem se habilita a um passeio pela parte superior da catedral outra gincana, além do esforço de subir – mesmo que em parte pelo elevador -, os degraus que conduzem ao topo do Duomo. São 12 euros para ver muitos andaimes, plásticos protetores e, também, banners com os nomes dos apoiadores da reforma, impedido a visão e “sujando” as imagens gerais das delicadas 136 torres de mármore que apontam para o céu e o horizonte milanês.
Por isso, a solução é tiro ao alto se a intenção for tentar capturar o espírito e as linhas arquitetônicas históricas da efervescente cidade italiana. Porque, se baixar a mira, o que aparecerá será o de sempre: lojas famosas, marcas conhecidas e gente com sacolas de compras nas mãos além, é claro, de turistas do mundo inteiro.
A salvação está num passeio dentro dos muros do Castelo Sforzesco, construído no século XV e com intervenções de Leonardo da Vinci que, entre 1496 e 1497, se dedicou a pintar os troncos de árvores da Sala dele Asse. Hoje, o castelo fortificado abriga os Museus Cívicos como o da Pré-História, o Egípcio, de Arte Antiga, do Móvel, dos Instrumentos Musicais, a Coleção de Arte Aplicada e mostras itinerantes.
Já em Torino, a Villa della Regina, o palácio barroco seiscentista encrustado na colina ás margens do Rio Pó que tem o mesmo nome da cidade piemotesa, que também está sendo restaurado, é aberto gratuitamente ao público para visitas a seus jardins e ao museu, composto pelos preservados aposentos em que Duques de Savóia costumavam passar o mês de setembro, nas comemorações da libertação de Torino.
Checando essas informações no site da Villa Regina, um alerta em destaque no topo da página: o espaço estará fechado até o dia 15 de dezembro. O motivo? As filmagens do longa-metragem “A Bela e a Fera”, produzido pela  LUX VIDE. Pelo tempo e permanência na locação, quase duas semanas, dá para apostar que será lá o palácio da fera do clássico infantil.     
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
ILUSTRADO DOMINGO    JULHO 2009

domingo, 1 de dezembro de 2013

Villa Manin e Capa, dupla jornada

V Manin 1301023 001 vila Manin entrada geral
Texto e foto de Valéria del Cueto
Passariano, na comuna de Codróipo, província de Udine é quase lá. Na Croácia. Fica na região de Friulli-Venezia Giulia, Itália, parada quase involuntária, numa visita a Camino del Tagliamento.
O vazio do grande pátio se descortinava cercado por arcos das construções que ladeiam a área central. Antes, duas torres com pequenos espelhos d’água vigiam  o portão de acesso à Villa Manin, residência do último doge de Veneza, Ludovico Manin.
Dali, Napoleão Bonaparte comandou por dois meses a fase final da campanha contra o estado de Veneto.  Ali, onde aquartelou suas tropas, foram feitas as negociações para a rendição. Com a assinatura do tratado de Campo Formio (17 de Outubro de 1797), entre a Áustria e a França, alteravam-se os limites da Europa e era encerrada a história milenar da República de Veneza Serenísima. Época registrada nos restaurados salões e galerias do palácio. Como era a Villa naquele tempo?  O quarto onde dormia, gabinetes e salas onde circulava com seu staff no desenrolar dos acontecimentos, em 1797. A Villa Manin de hoje resguarda e exibe sua arquitetura e seus tesouros como as exposições permanentes do acervo do Muzzeo dele Carroze e Armeria, com sua respeitável coleção de armas e armaduras de várias partes do mundo.
V Manin 1301023 010 frontal  Robert CapaMas isso não é tudo. O segredo parece ser misturar a tradição com a contemporaneidade. Villa Manin é um grande centro de artes e recebe, até 19 de janeiro de 2014, a retrospectiva “ROBERT CAPA, da realidade ao front”, coincidindo com o centenário de nascimento do artista húngaro, naturalizado nos EUA e, trazendo um diferencial proporcionado por parcerias com Magnum Photos em Paris e Centro Internacional de Fotografia, em Nova York, revela um lado pouco explorado do fotógrafo e explorado pela curadoria de Marco Minuz.
Claro que são apresentadas as principais experiências que caracterizam o trabalho de Capa: os anos em Paris, a Guerra Civil Espanhola, entre a China e o Japão, a Segunda Guerra Mundial, com o desembarque na Normandia, a Rússia após a Segunda Guerra Mundial, o nascimento do estado de Israel e, finalmente, o conflito na Indochina, onde Capa morreu prematuramente em 1954. O pulo do gato é a coleção fotografias dedicadas ao mundo do cinema.
Capa, desde 1936, está por trás das câmeras cinematográficas. Na Espanha documenta algumas sequências da Guerra Civil, com o cinegrafista russo Roman Karmen, do filme "Espanha 36", dirigido por Jean -Paul Le Chanois e produzido por nada menos que Luis Buñuel. No ano seguinte, filma mais sequências para o noticiário americano "March of Time". Em 1938 vai para a China contratado como assistente do diretor Joris Ivens  no documentário “Os 400 milhões” sobre a guerra no Sino - japonesa.
Seu encontro com a atriz Ingrid Bergman, em junho de 1945, em Paris, e o caso de amor que durou 2 anos,  permite a Capa fazer fotos no set do filme "Notorious" (1946) de Alfred Hitchcock, estrelado por Bergman. Em 1948 fotografa o "Arco do Triunfo" de Marcos Lewis.  Também fotografa, na Itália, o set do filme de Arroz Giuseppe de Santis " Bitter " (1949). Em 1950 roda em Israel o documentário “The Journey", sobre os sobreviventes do Holocausto que imigraram para lá.
Em 1952, em Roma, fotografa "The Golden Coach" de Jean Renoir, com Anna Magnani, e os sets "Moulin Rouge", dirigido por seu amigo John Huston. Em 1953, "O Tesouro da África”, estrelado por Humphrey Bogart e Gina Lollobrigida, e colaborando com Truman Capote, "A condessa descalça” com Ava Gardner.
O fim da Segunda Guerra e criação da agência fotográfica Magnum fundada por Capa, Henri Cartier- Bresson, David Seymour e George Rodgers coincidem com suas incursões em Holliwood, tão bem exploradas em Villa Manin.
É ver pra crer em mundos que já não existem mais. Mas marcaram e transformaram a realidade...
V Manin 1301023 004  entrada arcos Robert Capa
Mais informações sobre Villa Manin e a retrospectiva "ROBERT CAPA, da realidade ao front"
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

ILUSTRADO DOMINGO    JULHO 2009