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quarta-feira, 22 de julho de 2020

Pose de gostosa

Pose de gostosa

Texto e foto de Valéria del Cueto

Esse texto também sai da foto que o ilustra. Por si só ela dá seu recado para quem, além de olhar a imagem, consegue ver a mensagem. Não espere que ela seja descrita por aqui. É ponto de partida. Ou de chegada, dependendo da interpretação de cada um.

A minha é que estamos assim, colados na rede, sem saber se vivos, por um fio, ou já secando sem saber.

Nas duas hipóteses, o que resta é a trama. Para o bem ou para o mal, a gosto do freguês.
Mudando a abordagem, temos o ferro, mineral sustentando a planta, vegetal. A rigidez dando suporte à flexibilidade do abraço orgânico enquanto se submeter a teia.

É vida real em que toda regra tem exceção. No caso, ainda no quadro visual do quinto andar, cercado de prédios pelas quatro ruas que o compõe, divisa de Copacabana e Ipanema, onde os muros das muitas garagens e poucas áreas de lazer se tocam formando uma ilusão de rascunho de desenho geométrico a lá Mondrian ainda não colorido (estou  ressignificando quase tudo no quarto mês de isolamento).

Visualizou o solo? Então, agora, levanta o olhar. No tédio insuportável da monotonia, convido você a contar o número de janelas que nos observam. Acima, já sabe: biruta, jardins suspensos, grades, antenas emolduram o céu azul.

A exceção mencionada anteriormente é composta por três elementos. Casas de uma vila com entrada ensanduichada entre dois prédios da Sá Ferreira e, no meio de seus telhados se lançam para o alto uma mangueira e outra árvore majestosa. Seus galhos e ramadas, pelas minhas contas, atingem até o oitavo andar, interferindo na paisagem de lego emoldurada pelas janelas dos apartamentos.

Não sei o efeito dessa informação para os leitores do restante do país, mas garanto que, para quem conhece Cuiabá e outras regiões de norte a sul, esse detalhe tem um significado especial. Com gosto, textura, aroma e lambança de fruta comida com a mão. Não sei você, mas sou adicta. Ter uma mangueira no raio visual sempre será um privilégio e uma forma ludicamente biológica de acompanhar o desenrolar do tempo.

Folhas novas, brotos, botões, florezinhas espevitadas amarelas, calor (chuva da manga em Cuiabá, já ouviu falar? Também tem a do caju...). Ouvir os uivos de agosto, mês do cachorro louco, derrubarem as mais frágeis. Calor, calor, vento e campana para ver os frutos crescerem e amadurarem. Tem que colher e, se possível, esperar ficar perpitola. Nunca chego lá. Gosto de frutas mais pra verde.

Já cheguei na colheita imaginária, mas a verdade é que nunca comi os frutos do pé de manga do quadrado. Pensando bem, acho que não costumo estar no Rio na época. Posso estar comendo manga em Mato Grosso, em Uruguaiana e até em Belém do Pará, a Mangueirosa, como me ensinou Ismaelino Pinto apresentando as maravilhas amazônicas.
Ano passado estava na fronteira do Paraguay com Mato Grosso do Sul. Beirando o Pantanal, flanando por Campo Grande e vendo a explosão dos Ipês Rosa.

Esse ano, a mangueira do quadrado emoldurada por sua amiga gigante é a salvação da pátria verde e amarela. Sua copa alimenta meus olhos, atiçando a imaginação.

Os movimentos dos seus galhos e o balanço das folhas ao vento acariciam, sem me tocar. Ao contrário dos moradores que, ao abrirem suas janelas, são abraçados pelo atrevimento da natureza, abusada.

Para mim, ela, essa mangueira que não é o Chapéu, minha comunidade, como dizia o grande Bola, nem a verde e rosa, só acena a distância fazendo pose de gostosa. E quer saber? Parece pouco, porém está de bom tamanho. Daqui a pouco vem o fruto e recomeça o ciclo...

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

segunda-feira, 27 de março de 2017

Ver-o-Peso de Belém faz 390 anos

Ver-o-Peso de Belém faz 390 anos

Um mundo de cores, sabores e cheiros exóticos. Assim é o Mercado Ver-oPeso, em Belém do Pará, que hoje completa 390 anos, tombado pelo IPHAN em 2011.

Para comemorar eis o ensaio fotográfico que fiz por lá guiada pelo querido amigo Michel Vilhena,para a série Belém Tem, aqui do No Rumo do Sem fim, em setembro de 2015.

Clique AQUI ou na foto abaixo para a coleção completa das fotos.
Ver-o-Peso, Belém do Pará<script>
O ensaio fotográfico é de Valéria del Cueto
@no_rumo do Sem Fim… por @delcueto 

*curta nossa página turística No Rumo, no Facebook

Acompanhe as viagens pelo instagram @valeriadelcueto

Conheça no Studio @delcueto  os objetos para a sua paixão
Studio na Colab55

domingo, 8 de novembro de 2015

Fome de quê?

Belém 150916 160 Ver o Peso vegetal Banca Pimenta lataFome de que?

Texto e fotos sobre Belém, de Valéria del Cueto
A Itália me chama, mas não posso chegar lá (ainda). Dessa vez fui despertada por um alerta do Periscope,  aplicativo de transmissão de vídeo em tempo real (streaming) do Twitter. Fui parar, ainda dormindo, na abertura da edição 2015 da Artíssima, a feira de arte contemporânea que agita Torino, no Piemonte, no primeiro final de semana de novembro. Em 2013, o evento que ocupa o Oval, pavilhão do Lingotto Fiere, rendeu o texto “Torino, Corso dell’Arte Contemporânea” em que explorava  o evento italiano.
Um pouco mais tarde, outro alerta. Dessa vez é um email da Mendes Wood DM,(de Pedro Mendes, do time de curadores da Artíssima), uma das três galerias brasileiras, dentre as 207 participantes, de 35 países, com obras de Paulo Nimer Pjota. Do Rio, comparecem A Gentil Carioca com peças de João Mode, Rodrigo Torres, Maria Laet, Laura Lima, Thiago Rocha Pitta e a Luciana Caravello, com Nazareno. Artistas brasileiros como Matheus Rocha Pitta e Paulo Nazareth, estão representados nas galerias Sprovieri, de Londres, e Franco Noero, de Torino, respectivamente.
Por que não estou lá? Pergunta uma parte do meu cérebro adormecido. Já totalmente desperta tento responder ao questionamento e volto no tempo. Agora, até Milão onde vi, na mesma viagem, um detalhe que  me incomodou, narrado na crônica Tiro ao Alto: a poluição visual da cidade, com banners e penduricalhos referentes a Expo Milano 2015 que, com o tema “Nutrir  o planeta, energia para a vida”, movimentaria (e  inflacionaria) a cidade lombarda de maio a outubro.
“Alimentando o mundo com soluções”. Com esse slogan lá estivemos nós, nos últimos 6 meses, entre os 145 países que ocuparam gigantescos pavilhões, uma área de 1.1 milhão de metros quadrados, para receber um público estimado em mais 20 milhões de visitantes. O brazuca tinha 4.133 metros quadrados e várias bossas. Entre elas, uma rede suspensa por onde os visitantes passeavam. De 2013 pra cá procurei (sem muito sucesso) informações do que apresentaríamos por lá. O melhor canal, acreditem, era nas notícias veiculadas na Itália. Foi lá que descobri como seria nosso pavilhão, seu projeto arquitetônico e outros detalhes. Queria saber quais as premissas que norteariam nossa participação. Quando a EXPO começou, achei um site oficial que mencionava algumas receitas que seriam apresentadas por lá. Junto a tradicional Caipirinha aparecia um drink chamado Diabo Roxo. Lado a lado com a Feijoada, uma receita de Macarrão com Molho de Soja! Como estava numa fase “paz e amor” preferi não polemizar e acompanhar o que os outros países apresentariam de interessante.
Vi, mais uma vez, o Brasil na fita quando o ex-presidente Lula pontificou numa foto premonitória, literalmente andando na corda bamba, dando pinta na tal rede “multissensorial e imersiva”, atração do  pavilhão brasileiro. E assim se passaram os meses do evento que lotou e movimentou a Lombardia, o Piemonte e o território italiano, razões pelas quais não fiz nenhum esforço para visitar a Itália neste período. Ainda mais com a desvalorização de nossa moeda...
Nada chamou minha atenção positivamente nesse intervalo, especialmente porque expor produtos pecuários e agrícolas como frutas, entre elas morangos (aqueles entupidos de agrotóxicos), não era exatamente relevante para a sustentabilidade planetária. Não estávamos ali para discutir ou inovar, mas para vender o peixe institucional sem maiores questionamentos.
Até o evento dos dois últimos dias no pavilhão: o lançamento do Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade da Amazônia. Ele será implantado no Complexo Feliz Lusitânia, em Belém do Pará, para  viabilizar a pesquisa, o ensino e  formação, o fomento econômico, turístico e cultural, com uma escola de gastronomia, laboratório de alimentos, barco-cozinha, museu e restaurante. Pois não é que veio da cidade que completará 400 anos em 2016 a proposta que mais se  coaduna com o tema da ExpoMilano? Como sempre, o Pará. Surpreendente e na vanguarda...
A mais de 3.000 quilômetros no rumo sul, em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, juro que em breve atravessarei o país e, novamente, mergulharei nos sabores e saberes paraenses. Enquanto aguardo o inverno passar para, quem sabe, matar o desejo de explorar, mais uma vez, a terra de meus antepassados, a “Bella Italia”.
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do Sem Fim...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Tudo isso e muito mais

Belém 150916 139 Ver o Peso vegetal Banca Dona Coló aberta São JorgeTudo isso e muito mais

Texto e fotos sobre Belém, de Valéria del Cueto
Estive na Estação das Docas (de novo!), em Belém do Pará, para assistir ao lançamento, em setembro, do III Prêmio de Jornalismo em Turismo “Comendador Marques do Reis”, no Teatro Maria Sílvia Nunes.
Foi como entrar no túnel do tempo. Ali, há uma década, começava minha paixão pela capital paraense. O curta metragem “História Sem Fim, do Rio Paraguai – o relatório” era um dos selecionados para o Festival de Cinema de  Belém, produzido por Emanuel Freitas e pela maior representante paraense no cinema nacional, a queridíssima Dira Paes. A base do festival era numa embarcação atracada no cais, na ponta dos 500 metros ocupados pelos três armazéns que compõem o complexo  de salas, cinemas, restaurantes, lojas, a beira da Baía do Guajará.
Foi pelos corredores do teatro, onde os filmes eram apresentados, que vi passar um “cortejo” da Marujada que homenageia o santo negro. Ela é realizada, desde 1798, pela Irmandade de São Benedito de Bragança, no nordeste do estado. Como boa cuiabana “pau rodado” já tinha uma queda pelo santo protetor de  Cuiabá, capital de Mato Grosso. Quando ouvi o choro da rabeca, tambores, cuíca, viola e cavaquinho tocados pelos homens e vi as mulheres, com trajes característicos e chapéus de fitas, me rendi: ali nascia um objetivo.
Desde então persigo o sonho de ver o auto dramatizado ao vivo e a cores, em seu local original. Nunca cheguei lá. Mas o interesse pela procissão, que percorre as ruas em agradecimento a autorização dada pelos senhores para que os escravos pudessem fundar a Irmandade em Bragança, já rendeu frutos. Foi falando  dela que tirei um dez numa das matérias da faculdade de Gestão de Carnaval, da Estácio de Sá.  Isso foi antes que a Marujada de Bragança virasse Patrimônio Cultural do Pará, o que aconteceu em 2009.
Tudo isso passava pela minha cabeça enquanto ouvia o Secretário Estadual de Turismo, Adenauer Goes, falando sobre os objetivos do prêmio e comemorando o aumento de um dia no roteiro de atividades turísticas disponíveis em Belém.
Discordo dele. Positivamente, é claro! Acho que quem visita Belém não deve se limitar a três ou quatro  dias para explorar tantos atrativos como os apresentados em Cine ÓperaCéu na terraPARAiso dos Sabores e Florestas Urbanas. E ainda falta...
Acontece que é preciso respirar no tempo de Belém e não no ritmo dos roteiros tradicionais de turismo para conseguir a sintonia ideal que faz da cidade um lugar tão sedutor. Há o calor. Ele faz com que, mais que simplesmente inspirar e expirar no batidão frenético das excursões, precisemos respirar fundo e pausar a correria. Tudo no timming amazônico: as manhãs no Ver-o-Peso, o Tacacá das cinco da tarde, a Cidade Velha, o complexo Feliz Luzitânia, os parques... Já estou na quinta crônica e ainda falta falar de tantas coisas!
Depois de 10 anos do Festival de Cinema, consegui voltar. Foram 10 dias dessa vez. Posso garantir: ainda tenho fome de Belém. De conhecer seu povo, explorar melhor sua riqueza histórica, me surpreender pela maneira incrível com que a contemporaneidade se aproveita, explora e se fundamenta de tanta tradição. Sabendo dar continuidade às realizações e projetos. Tendo sabedoria para conseguir unir e integrar os elementos que constituem a sociedade local.
Não conheço outro lugar em que o diálogo entre a comunidade, as forças militares e a marinha mercante tenha alcançado tanto êxito. Enquanto, normalmente, esses elementos são entraves para a valorização de áreas turísticas (ai, meu Rio de Janeiro) lá, o que se vê, é quase a realização de uma utopia. Que se ainda não está 100% consolidada é porque sonhos grandiosos como esse levam tempo para serem concretizados. Demandam muita energia, amor e uma dedicação quase insana, em que as vaidades individuais sejam deixadas de lado em favor do bem comum.  É isso que Belém tem.
E muito mais! Um dia, certamente, como eu, você também será seduzido e há de (re)conhece-la.
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do Sem Fim...
E3- ILUSTRADO - SABADO 24-10-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo

sábado, 17 de outubro de 2015

Florestas urbanas

Belém 150915 068 Bosque Rodrigues Alves Iara lago amazônia

Florestas urbanas

Texto e fotos sobre Belém, de Valéria del Cueto
Há mais em Belém do que se imagina numa primeira abordagem. A cidade em 2016 comemora  400 anos da sua fundação e foi considerada, na época da áurea do extrativismo da  borracha, de 1890 a 1920, a “Paris n’América”. Pensam que é pouco?
Foi do “Bois de Bologne”, da Cidade Luz que veio a inspiração para a reforma do Parque Municipal, criado em agosto de 1883. Antônio Lemos, intendente municipal, o transforma no Bosque Rodrigues Alves, hoje reconhecido como Jardim Zoobotânico da Amazônia.
Passear por sua área de 15 hectares, é uma viagem à floresta amazônica, com direito a alamedas, viveiros, monumentos e recantos com grutas, riachos e cascatas. São mais de 10 mil árvores, de aproximadamente 300 espécies da região, incluído algumas em extinção. Caso do Cedro, Anjelim Rajado e Talibuca. O clima fica completo com 430 animais, de 29 espécies, que vivem em cativeiro. Outras 26 circulam livremente pelo espaço. São aves, répteis e mamíferos regionais coexistindo em perfeito equilíbrio com a natureza.
Pereira Passos, em 1905 faria a reforma urbanística do Rio de Janeiro. O prefeito carioca se inspirou e bebeu da mesma fonte que o responsável pelas mudanças urbanísticas que até hoje caracterizam Belém. Antes disso, a capital do Pará já havia partido na frente: foi a primeira cidade brasileira a ter luz elétrica e linhas de bonde elétricos. Era o auge do Ciclo da Borracha, em plena Belle Époque.
Da Europa chegam máquinas e peças de ferro, oriundas das mudanças provocadas pela Revolução Industrial. Muitas dessas estruturas podem ser vistas pela cidade. Entre elas o Chalé de Ferro, pré-fabricado e trazido da Bélgica. Montado entre 1882 e 1900, com 378 metros quadrados, serviu de residência e foi realocado no Bosque Rodrigues Alves.
Todo o complexo, que também é um campo de estudos e cultivos de mudas, é responsabilidade da Prefeitura Municipal e gerenciado pela Secretaria de Meio Ambiente.
Um Parque Zoobotânico está bom? Está não... Belém tem, além do Mangal das Garças, (já devidamente destrinchado em “Céu na terra”), mais um lugar especial para interagir com a grandiosidade da natureza local.
Belém 150917 007 Parque do Museu Goeldi preguiça
Museu Emílio Goeldi, instituição de pesquisas ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, se dedica, desde 1866, a estudar cientificamente os sistemas naturais e socioculturais da Amazônia. São mais de 5 hectares com  2 mil espécies, 600 exemplares da fauna e muitas atividades. Entre elas, exposições sobre temas locais, como “Amazônia, o homem e o ambiente” que ocupa uma das quatro salas do prédio principal, conhecido como Rocinha.
Belém 150917 012 Parque do Museu Goeldi Michel Vilhena e Rafael, pesquisador
Destaco a recepção proporcionada por Rafael, um dos integrantes do Clube do Pesquisador Mirim. Nos abordou uniformizado, de prancheta na mão, querendo que respondêssemos a algumas questões sobre o parque, seus animais e nossas expectativas em relação ao passeio. Compenetrado, nos acompanhou mostrando algumas das atrações que mais gostava. Explicou que não havia chegado ao Clube pela escola, mas pedindo que sua mãe o levasse até o Museu depois de assistir na televisão uma reportagem sobre as atividades dos participantes. As matrículas anuais estavam abertas. “Não parei de perturbar até ela me trazer. Estou adorando.” A ação educativa começou em 1997 e, de lá para cá, foi definitiva na escolha da profissão de inúmeros estudantes que passaram pelo clube. Muitos seguiram carreiras nas áreas de Zoobotânica, alguns São profissionais ligados a instituição.
Talvez esteja na hora do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, fazer uma visita a Belém do Pará para entender como é essencial a existência de um zoológico para uma comunidade. Quem sabe, não volte de lá com noções de como manter esse tipo de estrutura sem precisar entrega-la à iniciativa privada. Todos os espaços aqui citados pertencem e são geridos pelo poder público. Vivendo e aprendendo...
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do Sem Fim...
E3- ILUSTRADO - SABADO 17-10-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo


sábado, 10 de outubro de 2015

PARAiso dos sabores

Belém 150914 017 Bar do Rubão fogão caranguejo

Texto e fotos sobre Belém, de Valéria del Cueto
Se é Nossa Senhora de Nazaré no céu durante os festejos do Círio, também é gula (que Deus nos perdoe)  aqui na terra. Quem resiste aos encantos culinários de Belém do Pará? Nem eu que não sou lá grande coisa quando o assunto é gastronomia. M sinto impedida por um fato prosaico: não como frango, galinha, nem nada que voe. Falamos da terra do Pato com Tucupi, captou?
Vou começar pelo fim e num lugar bem fácil: a óbvia e imbatível sorveteria Cairú, na Estação das Docas (sonho de consumo de cidades como o Rio de janeiro, um enorme complexo turístico cultural composto por três antigos armazéns, ao lado do famoso Mercado Ver o Peso e da Cidade Velha e seus monumentos). Meus preferidos são o picolé de Tapioca e o sorvete Carimbó: castanha verde com geleia de cupuaçu. Meu Deus! De comer ajoelhada e repetir várias vezes.
Sabia que ia voltar ao “Lá em Casa”, no Armazém 2, o Boulevard da Gastronomia, de Daniela Martins. Primeiro passei num almoço, tipo self-service. Melhor o clima da noite, mais aconchegante e tranquilo. O Filé Ilha do Marajó, prato da Boa Lembrança, tem geleia de cupuaçu, pimenta rosa, queijo do Marajó e jambu.
Demorei a entender por que às cindo horas da tarde, num calor mais abafado do que deveria ser (considerando que dos 10 dias que passei, só duas vezes choveu no horário costumeiro e num outro dia já de noite), vinha o convite para irmos tomar um Tacacá. Caldo de Tucupi sobre a goma de tapioca, jambu, chicória, camarões, etc, etc. No segundo chamado no mesmo horário incomum foi que deduzi que esse é um costume local e, assim sendo, fui introduzida no metier na hora que, na Inglaterra, é costume tomar o chá das cinco. Numa calçada da Avenida Nazaré, no Largo Redondo, em frente ao colégio Nazaré, fica o Tacacá da dona Maria. Peleio para me entender com a cuia, cestinha, palito e, fundamental, muito guardanapo. Não há como negar que é soberbo!
Também tem o Açaí. No Point Boulevard ele vem com tudo: tapioca e farinha d’agua. Acompanha o Filé de Pirarucu com vinagrete, arroz, farofa. Isso após um passeio pelo variadíssimo Ver-o-Peso, o entreposto fiscal fundado em 1625 para aferir os produtos e pagar os impostos para a coroa portuguesa que se transformou na maior feira livre da América do Sul, com seu estilo Belle Époque. Fartura e variedade de produtos, cheiros e coisas que nunca se viu na vida.  Vai Pitaya ai?
Outro lugar muito agradável é o Restô do Parque, no mesmo espaço da Estação Gasômetro, o Parque da Residência, antiga Casa dos Governadores. Um buffet à quilo, da rede Pommed’Or. Tanto aqui quanto no Manjar das Garças o quesito visual é nota dez. No restaurante do Mangal das Garças, o buffet é a preço fixo, o que, no meu caso, não é muito interessante.
Belém 150914 016 Bar do Rubão e cozinha
A não ser... no lugar que deixei por último. O Bar do Rubão, na Travessa Gurupá, Cidade Velha. O “carnavalesco e cozinheiro” me pegou pelo sorriso e também pelo estômago. Bati ponto. A primeira vez, para experimentar o caranguejo desfiado com farofa. Depois, numa madrugada, foi a vez da singela e reconfortante sopa de caranguejo.

A última investida foi durante o Projeto Circular em que conheci a Casa Stúdio de PP Condurú, depois de visitar a Elf Galeria, de Lucinha Chaves, na Passagem Bolonha, e a Kamara Kó, galeria de fotos ali mesmo, na Cidade Velha. Pois chegamos nas mesinhas colocadas na calçada dispostos a experimentar o Pirarucu de Casaca. Pura ilusão. Pauta para a próxima visita. A iguaria havia acabado logo no início dos trabalhos. Além do caranguejo de consolação, fui apresentada ao Camusquim, macarrão com molho branco e camarão. Li em algum lugar que é prato típico do Marajó. Uma coisa!
Mas não é tudo. E aí, um toque que faz de Belém um local para todos os tipos de paladares. Foi no Bar do Rubão que comi uma das melhores batatas fritas que já provei na vi-da. Crocante por fora e um cremezinho por dentro. Viciante. De dar água na boca só de lembrar.
Belém é um PARAiso dos sabores para todos os gostos...
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do Sem Fim...
E3- ILUSTRADO- SABADO 10-10-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo

sábado, 3 de outubro de 2015

Céu na terra

Belém 150915 119 Mangal das Garças ave laranjaCéu na terra

Texto e fotos sobre Belém, de Valéria del Cueto
Belém do Pará é um lugar multifacetado e isso é apenas uma de suas seduções. Outubro, o mês de sua maior festa, o Círio de Nazaré. A cidade se engalana para receber os romeiros e devotos da santa.
Antes do início da festa, no intervalo após o Festival de Ópera do Theatro da Paz, Belém é deliciosamente calma. Bem diferente do agito social frenético que domina as festividades religiosas.
Um ótimo momento para explorar o Mangal das Garças! Era desejo antigo guardado para quando tivesse tempo sobrando para sintonizar e realinhar as energias com a natureza exuberante. O espaço, aberto em 2005, ocupa 40 mil metros quadrados na margem do rio Guaná, ponta da Cidade Velha, ao lado do Arsenal de Marinha.
O Memorial Amazônico da Navegação apresenta os elementos dominantes no meio de transporte que forjou Belém: o militar(Marinha), o comercial(ENASA) e o regional. A estrutura do prédio, em Ipê, e seu telhado de palha se integram com os objetos exibidos. Destaque para as peças refletidas em espelhos e enquadradas pelas laterais vazadas da construção. Um divertido exercício fotográfico, antes de uma mudança radical nas dimensões exploradas.
É no alto do Farol de Belém, outra das atrações pagas, assim como as demais visitas monitoradas, que temos uma ideia do espaço geográfico onde está encravado o Mangal.
O rio, o projeto arquitetônico do Parque Naturalístico (capitaneado por Paulo Chaves Fernandes, secretário estadual de Cultura) e a cidade de Belém, dominada por suas maravilhosas mangueiras, se descortinam de 47 metros de altura, no topo da torre da caixa d’água que abastece todo o complexo.
Os Lagos Cavername, da Ponta e o minizoológico, onde os animais interagem ou ignoram solenemente os visitantes, são os recantos referenciais do espaço gratuito concebido para apresentar as matas de terra firme, de várzea e os campos: componentes do ecossistema amazônico.
Aberto das 9h às 18h de terça a domingo, a partir das 7h está liberado para caminhadas. Também é possível acompanhar diversas atividades relacionadas ao cotidiano local como alimentação de peixes, tartarugas e garças, no Recanto da Curva, e soltura de borboletas, no Borboletário.
Se a sintonia for fina, a energia boa e a paciência muita, é possível “dialogar” e clicar garças, maguaris, socós, marrecos, tartarugas, iguanas que “ocupam” o espaço.
Dois viveiros, um de pássaros, outro de beija-flores e borboletas, podem ser visitados. No dos pássaros, conta seo Carlos, o encarregado, estão abrigadas espécies recolhidas pelo Ibama e ainda incapazes de voltarem para a natureza. Do órgão também vem a madeira apreendida nas operações contra o desmatamento utilizada na conservação e manutenção do parque e seus equipamentos. Pelo menos uma vez por ano, por causa das chuvas, parte das estruturas de madeira tem que ser substituída para segurança dos visitantes: aves, animais e turistas.
O restaurante Manjar das Garças, com um visual incrível, e o Mirante do Rio, projetado sobre o Guaná no final de uma passarela de 100 metros sobre os mangues com sua vegetação típica, o aningual, são outras atrações a serem exploradas. Tudo num tempo próprio, onde a luz modifica o ambiente e cria efeitos diferentes no correr do dia. O Armazém do Tempo, no galpão de ferro da ENASA, Empresa de Navegação da Amazônia S/A, usado como oficina mecânica e de reparo de embarcações, transformou o ambiente restaurado num espaço de exposições e venda de produtos indígenas.
Criado há dez anos, o Mangal das Garças é, sem dúvida, um referencial urbanístico brasileiro. Integra a comunidade, permite a interação homem/natureza e explora de forma sustentável as belezas da Amazônia.
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do SEM   FIM... 

sábado, 26 de setembro de 2015

Cine Ópera

Belém 150919 076 Theatro da Paz Festival de Ópera encerramentoCine Ópera

Texto e foto sobre Belém, de Valéria del Cueto
Belém do Pará estava na mira fazia tempo. Só faltava o motivo inadiável para uma nova aventura amazônica. Que tal a estreia do cineasta  Fernando Meirelles, indicado ao Oscar por “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”, na direção de uma ópera? No caso, Os Pescadores de Pérolas, de Georges Bizet, destaque do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz.
Antigamente chamaríamos de combo ou “três em um”, o que hoje é multimídia mesmo. Inclusive geográfica. A exótica ilha do Ceilão onde se passa a narrativa é representada no palco, nas finas telas transparentes de cinema que compõem a cenografia assinada por Cássio Amarante, por planos rodados no Jardim Botânico Amazônico de Belém, o Bosque Rodrigues Alves.
A cena abre com uma imensa projeção remetendo ao fundo do mar e o trabalho dos mergulhadores que exploram as profundezas em busca das valiosas pérolas.  As soluções pesquisadas na medida em que o livreto de Eugene Cormon e a música de Michel Carré foram sendo decupadas, segundo Meirelles, servem para aproximar o público da trama que envolve os amigos Nadir (Fernando Portari, tenor),  Zurga (Leonardo Neiva, barítono) e as consequências de suas paixões pela mesma mulher, a  sacerdotisa Leila (Camila Titinger, soprano).
Extrapolando o espaço cênico e “ocupando” a plateia é criada a sensação de que os assistentes fazem parte da comunidade de pescadores de pérolas que, ao descobrir que a sacerdotisa e Nadir haviam traído os votos necessários para proteger a aldeia e favorecer a pesca, comandada pelo sacerdote Nourabad (Andrey Mira, baixo), exige o sacrifício dos amantes.
Caberá a Zurga que se sente traído pelo amigo num antigo pacto, condenar os amantes: morte, ao raiar o dia, logo que o sol se levante. Mas, ao reconhecer no colar entregue por Leila para ser levado para sua família, como o que ele deu a menina que anos antes salvara sua vida, o líder dos pescadores toca fogo na aldeia e facilita a fuga dos amantes, antes de reconhecer para os aldeões ser o autor do fogo que consumiu seus lares e enfrentar as terríveis consequências de seu ato.
O Coro Lírico, conduzido pelo maestro Vanildo Monteiro, tem papel de destaque assim como a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, regida pelo jovem  Maestro Miguel Campos Neto. A apresentação, mesclando nomes conhecidos no cenário de ópera nacional e valorizando os talentos do canto lírico local, foi inesquecível. Aplaudida de pé nas três récitas lotadas por um público exigente e ávido de boa música.
O XIV Festival se encerrou no dia 19 de setembro com um concerto ao ar livre, na frente do espetacular Theatro da Paz, com a apresentação peças do repertório lírico. Para fechar a edição que antecede as comemorações dos 400 anos de Belém, na execução do hino do Estado do Pará, uma imensa bandeira paraense foi desfraldada, cobrindo a fachada de arquitetura neoclássica, inspirada no Theatro Scalla de Milão, na Itália. Lindas as expressões de orgulho nos semblantes dos que aplaudiam a performance.
Tanto as récitas de “Os Pescadores de Pérolas”, de Bizet e “A Ceia dos Cardeais”, de Iberê de Lemos, como o Concerto de Encerramento que compuseram a programação entre o dia 7 de agosto e 19 de setembro de 2015, deram a dimensão do trabalho de excelência que vem sendo desenvolvido nas 14 edições do Festival de Ópera do Theatro da Paz, promovido pelo governo do Estado do Pará, através da Secretaria do Estado de Cultura, sob a batuta do arquiteto Paulo Chaves Fernandes.
Ano que vem, nas comemorações dos 400 anos de fundação da surpreendente e pujante Belém do Pará, podem ter certeza: estarei novamente na plateia aplaudindo a uma nova e, certamente, empolgante aventura lírica no maravilhoso espaço concebido pelo engenheiro militar, José Tibúrcio de Magalhães, no auge do Ciclo da Borracha.
A César o que é de César...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
E3- ILUSTRADO - SABADO 26 -09-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo