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terça-feira, 13 de julho de 2021

À flor da pele


Texto e foto de Valéria del Cueto

O rendilhado dos raios de sol atravessando as folhagens se projeta nas cortinas cor de mostarda do quarto. Ditam a hora do primeiro movimento do dia.

Ainda é um esforço pequeno, apenas o suficiente para jogar o edredon de lado, chegar ao pé da cama e abrir as janelas deixando a luz solar que ultrapassa a borda da montanha entrar e aquecer a parede da estante e da escrivaninha, passeando ao lado do notebook detentor de escritos, imagens e segredos.

O murmúrio rouco e contínuo do riozinho predomina até os passarinhos começarem a algazarra intermitente entre as espécies que visitam a mangueira, a goiabeira as bananeiras e o bambuzal, do outro lado do fluxo da água, pirulitando entre as folhas e sacudindo os galhos, única forma de pressentir a dança das espécies que circulam na floresta.

É melhor nem respirar e evitar movimentos bruscos. Eles podem atravessar a cantoria e alertar a passarada da presença do ser estranho que espreita o espetáculo. Humanos assumidos não são bem-vindos na colorida e inquieta festa matinal, só os que aceitam a imposição da exigência da imobilidade e conseguem adequar o ritmo da respiração à sintonia da mãe natureza.

Até o acionamento da máquina fotográfica tem que ser delicado, nada brusco. Lento e seguro como o dedo no gatilho de uma arma. Que comparação terrível. Mas é verdadeira. O “tiro” da imagem não pode ser brusco. Tem que ser leve e constante. Quando se alcança essa afinidade os passarinhos quase fazem poses dançando, nesse caso, nos galhos e folhas largas do mamoeiro.

Depois é tempo de seguir o fluxo do riacho indo pela estradinha de terra que ladeia a água, cruzar a ponte de madeira, atravessar o gramado e, fazendo um esforço imenso para não se perder do objeto de desejo, evitar - não sem marcar a luz especial, a tentação de parar para “desenhar” com a máquina fotográfica as muitas flores e a vegetação. Elas tremulam com a brisa acenando suas cores em busca de atenção, o que desviaria o foco ainda não alcançado do projeto da manhã ensolarada de inverno.

As pedras do riozinho por onde a água cristalina brinca de deslizar é o destino quase inalcançável. São muitas as tentações. O guia sonoro fica mais definido a medida em que a aproximação da margem vai sendo feita. É o som da água que muda sua linguagem acrescentando tonalidades e notas, agora distinguíveis e estimulantes, diferentes do murmúrio rouco do despertar.

Tentar entender o diálogo das nuances do encontro das pedras com o serpentear aquático que forma cachoeirinhas, redemoinhos, ou se espreguiça nos remansos arenosos, é tão impossível quanto assistir um filme turco sem legenda. Mal dá para distinguir o início, o meio e o fim das frases dos diálogos, o que dirá compreender as palavras. Traduzi-las então...

O fluir deslizante no leito pedregulhento é assim. A gente, no máximo, capta o sentimento, a energia despendida no movimento capturada pelos reflexos espelhados que mudam de cores e alteram suas múltiplas tonalidades dependendo do ângulo, da intensidade e dos caprichos dos raios de sol.

Pensa no que acontece, por exemplo, com o passar festivo das nuvens ligeiras que sassaricam ao sabor das brisas e correm quando fustigadas pelos ventos. Lembre-se que falamos de um dia ensolarado.

Tudo é leve. Profunda, só a percepção para acionar a camada da sensibilidade (capaz de detectar a sutileza dessas nuances) e a memória. Ela, que permite esse registro. Feito no inseparável caderninho que vai sendo escrevinhado sobre a canga que protege a pele do cimento da piscina de água natural, abastecida pela bica que vem da mina, exigindo atenção com seu som forte e constante.

Assim vai se derramando e ritmando as palavras dessa que é mais uma crônica @no_rumo do Sem Fim...  

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com


@delcueto.studio na Colab55

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Havia uma pedra

Havia uma pedra

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Incêndio na Flotropi. E não é pouco fogo não. A bicharada está em pânico e entre uma tossida e outra, uma ajuda a um irmão encurralado e as tentativas de fugir das chamas que engolem a floresta se pergunta: “como chegamos a esse ponto?”

A formigas trabalhadoras já haviam sentido em suas caminhadas no leva e traz de folhas e galhinhos para os formigueiros que algo não estava bem. A começar pela falta de chuvas e o descuido com os preparativos para o período da seca, ao menos para proteger a clareira real. As cigarras estavam mais roucas por causa da fumaça!

O eleito da vez, com mania de dinastia e império, não só deixou de fazer o beabásico, como incentivou a desobediência às regras de queimadas na área florestal. Seu assessor, encarregado das ações preventivas visando proteger o habitat, já dava sinais que estava mais para coração de pedra que coração de leão. E que de protetor e mantenedor do meio ambiente da Flotropi e seus habitantes, animais, vegetais e, por que não, minerais, não tinha nada!

Começou sua obra transferindo o responsável pela proteção dos golfinhos para o lado mais seco do país, alocando-o numa parte semiárida do território.

Nessa época do ano, qualquer animal de boa cepa sabe, em vez de gastar os recursos do tesouro florestal com a medida que, logo depois, foi derrubada no tribunal dos bichos, ele deveria estar estruturando a fiscalização e punindo os infratores que, já no início do inverno e do tempo seco, se preparavam para tocar fogo nas matas. E o que o animal fez? Nada!

Se limita a desqualificar os guardiões e, devidamente motorizado nas redes sociais, agradecer os aplausos dos demais membros do conselho florestal do atual governante, todos interessados em enfraquecer e dizimar os valores primordiais do meio ambiente da Flotropi: o ar, as matas e seus habitantes.

Nem o aparecimento de imagens terríveis de animais carbonizados, da vegetação sendo engolida pelo fogo, nem os gemidos da floresta serviram para sensibilizar os cruéis e gananciosos governantes de Flotropi. Quem imaginaria que as coisas chegariam a esse ponto?

Quando os representantes de outros ecossistemas começaram a se movimentar para impedirem a destruição em massa as hienas e os chacais do conselho continuaram fazendo cara de paisagem (variadas, conforme o setor de atuação) até que o presidente da Flotrofran botou a boca no trombone e levou o caso ao conselho mundial dos mais poderosos sistemas ecológicos do planeta.

E deu no que deu. Ou seja, o eleito (bem feito!) e já não tão amado assim, como bom mico bateu boca com o líder que expôs suas mazelas, partiu para a baixaria pessoal marital, recusou ajuda para conter as queimadas e, vestindo a roupa nova de seus asseclas costureiros, achou que estava tudo dominado.

E não teve manifestação nem passeata da bicharada indignada que amolecesse a moleira e abrisse a “caixola” dos donos da clareira.

Não contaram com a reação que levou o coração de pedra para a lona. A informação de que os produtos da Flotropi estavam fora da pauta de importação de grandes consumidores dos produtos flotropicais.

Deu xabu, deu piti e terminou com uma passagem pela CTI. O que era pedra não furou (ainda), mas começou a propagar, quem nem gota n’água, as consequências de sua inconsequência. O rastilho alcançou vários setores e está fazendo a bicharada ficar de antenas e orelhas em pé.

Rapidamente começaram a operação enxuga gelo para apagar o fogo. Jogando mais lenha em outras “fofogueiras”, baboseiras e besteiras.

Mais ou menos, porque agora a floresta palpitante e o mundo vigilante não vão deixar de cuidar da natureza. Ela não tem dono. É de todos os habitantes. Pelo menos aqui, na Flotropi, onde quem manda sou eu.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Pos(s)e real

Pos(s)e real

Texto e foto de Valéria del Cueto

Gente! Que correria é essa? A floresta está um alvoroço nesse início de ciclo animal. É reunião na clareira central. Passagem da coroa para o substituto eleito do regente Vampirão. Esse é o apelido do já saudoso morcego tampão. Ele aguardou penduradinho (de cabeça para baixo), entre folhas e galhos das (ainda) frondosas árvores da exuberante flora e fauna desses trópicos, o momento histórico de passar o comando do reino ao sucessor.

E assim foi. Em meio da panapaná de borboletas azuis quase desfalecidas pelo calor da indumentária da segunda dama, a do vice-rei cabeça preta (vai virar modinha no reino), lá iam eles, o mito e a dama de rosa pelas trilhas da clareira real em busca da taça, quer dizer, da faixa.

Os animais comemoravam a troca de casais reais. E repararam no conselho central, onde as hienas, aves de rapinas e afins, figurinhas carimbadas, permanecem as mesmas para desalento de alguns e expressões entediadas de “eu bem que avisei” de tantos outros. Esses, diga-se de passagem, nem deram as caras para aplaudir o cortejo.

A festa na clareira engalanada para as espécies amigas foi cheia de ufanismo. O único protesto explícito partiu de um equino revoltado que deu “piti” bem na frente do veículo que, tradicionalmente, conduz a realeza ascendente. Corre a boca pequena que foi o cavalo de São Jorge que confundiu a “carruagem” com o dragão. Sabemos, é uma lenda. Um mito, por assim dizer.

Opa! Na floresta, em tempos atuais, chamam assim o novo governante. Como se mito não fosse apenas um ser imaginário. Daqueles que, como os ratos da carruagem da Cinderela, com o fim do feitiço voltam à sua forma original.

Deixa estar, porque o efeito “floresta em festa” passou rapidamente. Não levou uma semana para recomeçar aquela bateção de cabeça de sempre. Só que um pouco diferente...

Meninos de azul e meninas de rosa, cacarejou a responsável pelas chocadeiras e poleiros. Esquecendo que quando o ovo quebra tudo é igual. E quando se “vestem” os filhotes pinto é amarelo, o pato branco, a cobra, vixe, essa tem várias cores.  Os pássaros podem ser coloridíssimos e o cisne cinza depois fica branquinho... Tocou horror no averio. As araras azuis preocupadíssimas. Certas que o-di-a-rão cor de rosa nas crianças. Cada vez mais perto da extinção, reclamam veementemente, prontas para defenderem as cores que dão denominam a categoria araral específica.

De cima da goiabeira, empoleirada esperando Jesus, a protetora das famílias dissemina o disse me disse que corre solto entre interferências atabalhoadas na vida privada das espécies da fauna florestal.

Com apoio do mandatário-mor que deu sua contribuição à empreitada da nova colorição animal. O laranja, para desespero das espécies cujos couros pelagens e plumagens tendem para esse tom, foi declarada a cor dos encarcerados. Até hoje tem bicho esperando que a fila do “teje preso” seja encabeçada pelo Queiroz, o que fazia rolo e juntava fortuna e não era conduzindo Miss Dayse...

Em três dias o mito tinha incorporado seu lado animal falando especialmente de economia e finanças. Seu conselheiro econômico se fechou em copas e cancelou compromissos na primeira sexta-feira de governo! Coube ao responsável pelos assuntos reais junto ao conselho de notáveis da clareira informar que o dito era não dito. A lista dos equívocos e macaquices, agora reais, estava oficialmente inaugurada.

A engajada rainha que não pia, mas gesticula, abriu seu novo habitat à “migas”. A residência oficial foi esquadrinhada e divulgada por uma irmã em Cristo. Não do que subiu na goiabeira.  Passou a ser responsável pelos piores pesadelos da segurança mitológica florestal, aquela que até prego pregou nas persianas do conselho por causa do perigo de um atentado na posse real.

O bonde anda, o bonde avança, o bonde toma posições. Com os mesmos passageiros de sempre e o tempero do deslumbramento emergente de mais uma penca representantes da nova dinastia do reino animal.

Os deuses da floresta observam...

* Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O vai da valsa na Flotropi

O vai da valsa na Flotropi

Texto e foto de Valéria del Cueto

A floresta que nos resta está um reboliço! Nada que o tempo não resolva. Depois de uma anta e de um morcegão, vem aí mais uma mudança na chefia do reino. Mas e a catreva? Continua a mesma.

Tudo com a torcida batendo palminhas e fazendo um estardalhaço, como se a troca significasse a redenção e solução de todas as mazelas e o fim da influência dos maus espíritos. Não os de porco e javali que esses continuam ali, juntinho com os chacais e as hienas, garantindo o entorno e mantendo a distância a patuleia.

Ora, senão vejamos: o papagaio de pirata aparece em todas as fotos e registros jurando que o filho é dele. Agora lhe cabe o papel de pregador mor tocando clarim e orando para que o Deus do ódio e do preconceito proteja uns e castigue os que, por um ou vários motivos, discordem do tom da zoeira que ensurdece a bicharada e impede o diálogo. A sintonia da Flotropi agora, querem eles, que tenha uma nota só!

O escolhido pela maior parte da bicharada que não é a maioria (parte da fauna se absteve de dar seu pitaco na escolha), impõe suas ideias através das redes de comunicação florestal. É uma barulheira infernal que acaba deixando todo mundo animal endoidecido com seus conceitos pré-estabelecidos e obtusos, já que ele não voa, não nada e não é lá essas coisas quando o assunto é uma boa corrida.

Pelo sim e pelo não, passou o período de campanha recolhido depois de ter sofrido um providencial e oportuno chega pra lá. Quase um sossega leão. Mostrando sua valentia se encolheu e, contrariando as regras do jogo, se limitou a brincar de telefone sem fio teleguiado por conselheiros ocultos que, como pingo no espelho d´água, expandiam e ampliavam mensagens de preconceito, ódio e... medo.

A floresta regride e se auto agride enquanto segue a bateção de cabeça institucionalizada. O que um conselheiro diz o futuro rei não assina e desdiz. Os candidatos a “assistontos” são justamente aqueles que em reinados passados rapinaram as matas e estão mais decorados do que pau de galinheiro.

A dura realidade é que o rei realmente está acreditando na roupa que seus costureiros venderam à bicharada para que ele fosse escolhido o maioral do pedaço. Pensa que é mito, o mico. Se julga ungido pelo Deus da floresta e bota fé na sua missão redentora. Nem que, para isso, tenha que mandar pro paredão ou pro xilindró da selva espécies inteiras.

Mas alto lá!!! Isso só depois da sua coroação oficial ano que vem. Até a posse se dedica a aparar seu topete na lua minguante (duas vezes em dois dias), excluir representantes de suas reuniões para passar seus informes e, na falta de mobiliário adequado, apoiar seu sistema de comunicação nos adereços marítimos da prole esportiva.

Também capricha na escolha dos asseclas. Na vice, um exemplar da mesma espécie, só que mais categorizado. Esse, diga-se de passagem, já avisou que vai colar no titular e pretende ser positivo, operante e, claro, não largar o cipó.

Para garantir a crença que não crê e a moral que nunca praticou convidou o representante mor da limpeza florestal. O mesmo que enquadrou os que praticavam mal feitos no reinado que caiu, mas não puniu nin-guém do mandato do regente. Aquele conhecido morcegão em vias de ser deslocado da clareira real e que, claro, por uma questão midiática seria o próximo defenestrado.  Caso não arvorasse para si a missão de adiantar o trabalho sujo do reinado em troca de um confortável esquecimento nos dias so(m)brios que virão. Como isso será possível? Simples. A intenção é continuar batendo no cachorro morto que, todos sabem, é o alvo principal do imaginário da bicharada.

Como a Flotropi sobreviverá a um tamanho sacode? Só o tempo dirá. Já que, entre outras preciosidades, em nome do enxugamento das mamatas o rei, agarrado no cipó, pende para um lado e para o outro na intenção de misturar o correntão com a defesa da flora e fauna do matagal.

No vai pra lá, volta pra cá, já tem bicho arrependido da escolha. Afinal, macaquice tem limite, apesar da claque continuar levando fé e acompanhando com entusiasmo as promessas do milagre florestal...

* Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas fabulosas” do SEM FIM...  http://delcueto.wordpress.com
Studio na Colab55

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Como no quartel

Como antes no quartel

Dúvida cruel, o que e para onde?

Série Arpoador para falar do Rio de Janeiro e da guerra do tráfico que recrudesce na Zona Sul e colapsa boa parte da cidade. Isso não quer dizer que o bicho começou a pegar agora, asi no más.
Nada disso. Os sinais de que, mais dia menos dia, o que já estava fora do controle em outras áreas urbanas explodiria na maior favela carioca, a Rocinha, estavam visíveis.

Para coroar a levada hard core a violência explodiu no meio do caminho para o festival de música que pretendia ser o ponta pé inicial de uma “retomada” turística do Rio. É puro rock and roll! Com direito a muitos coros de “fora Temer” e protestos contra a classe política, a cura gay, pela demarcação das terras indígenas, a proteção da Amazônia e por aí a fora Temer de novo.

Enquanto isso Pezão, o governador estado, declarou ter “afinado a viola” depois de “discutir a relação” com o Ministro da Defesa, Raul Jungmann. Ele disse, no primeiro dia de ocupação do Exército, que a Rocinha “estava pacificada”. Como esqueceu de avisar “aos alemães”, o pipoco continua comendo solto.

A segunda possibilidade literária é partir para a série Parador Cuyabano abordando os últimos acontecimentos em Mato Grosso. Como a delação da delação do ex-chefe de gabinete do também delator ex-governador Silval Barbosa, que garantiu à nossa terra mais um título de primeiro lugar, dessa vez na categoria “dedo-duro escorpião”, o que morre com o próprio veneno. Aperfeiçoando o modus operandi estreado pela dupla sertaneja da J&S, Joesley e Ricardo, a que involuntariamente se auto gravou, Sílvio César se deixou levar pela falsa impressão que seria o único a ter a brilhante ideia de gravar colóquios comprometedores. Morreu pela boca. Existirá peixe-escorpião?

Enquanto alguns dormem com um pijaminha social (para o caso de precisar descer para vistoriar obras de emendas parlamentares em Várzea Grande), outros perdem o sono sem saber quando receberão a dádiva do despertar ao doce toque madrugador da campainha acionada pelos homens da valorosa Polícia Federal.

Aí, me pego pensando e desafio você, leitor, a exercitar sua imaginação e responder:

1) O que faria se soubesse que estava na mira dos tiras e que, mais cedo ou mais tarde, veria o sol nascer quadrado?

2) Como viver como se não houvesse amanhã, sem saber em que amanhã a vida boa acabaria?

3) O que você comeria e beberia se soubesse que o amanhã lhe reserva o direito garantido de uma marmita carcerária?

Voltando à realidade (só pode ser ironia), ainda há uma terceira opção para a crônica, a série Fábulas Fabulosas. Não fosse o detalhe que a última escrevinhação foi Senta no Toco, protagonizada pelo extraterrestre Pluct, Plact. Repeteco não dá, né?

Enquanto a dúvida persiste cruel impedindo o desenvolvimento adequado do texto, daqui da TV ao lado ouço a canção: “Só uso necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”. Martelo batido! Definida a ambientação do restante da crônica em construção. “Mogli, o Menino Lobo”, mata a charada!

É lá na floresta (aquela onde a anta perdeu o cargo de presidente para o morcegão sugador do sangue da fauna local e as hienas continuam rondando a carniça governamental), que se desenrola o que sobra do espaço semanal que me pertence.

Acontece que, mais uma vez, as raposas foram convocadas para tomar conta do galinheiro da denúncia de que o morcegão e várias hienas parceiras andaram sugando sangue e comendo as beiras e o miolo da “ceva” florestal.

Apesar da revolta geral da bicharada, sibilam as cobras, coaxa a saparada em sintonia, uivam os lobos a luz da lua que, garantido mesmo, nesse caso, há apenas um direito: o “jus esperniandi” para engambelar a fauna torcedora. Por enquanto, fica tudo como antes no quartel de Abrantes.

Até quando?

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas Fabulosas” do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Pânico viral

Pânico viral

Texto e foto de Valéria del Cueto

As imagens alegóricas das Fábulas Fabulosas ficam opacas e difusas, incapazes de transmitir ou traduzir   fidedignamente os últimos, os atuais e os próximos acontecimentos. Suas inevitáveis e imprevisíveis consequências.

O fator inexorável é que, seja lá o que venha a ocorrer, as cartas do jogo, da forma com que foram colocadas na mesa, indicam que não haverá regras nessa demanda. Será ladeira abaixo, sem direito a corrimão.

Não há tabuleiro de xadrez que absorva tantas casas, peças, movimentos e variantes. A cada evento uma ou mais novidades que tornam sempre inéditas e mirabolantes as ações, revelações e suas consequências. Não é coisa para amador.

Talvez, se o tabuleiro fosse tridimensional, desse para inserir todas as coordenadas dos eventos que surpreenderam, surpreendem e, pelo andar da carruagem supersônica, seguirão deixando gregos, troianos e baianos de boca aberta e totalmente sem ação.

Tudo parecia ir muito bem lá pelos lados da Floresta. Pelo menos do ponto de vista da atual direção administrativa do mundo animal. O conselho real, composto pelas raposas, hienas e urubus, e capitaneado pelo vice morcegão, como toda a bicharada sabe, assumiu as rédeas do controle da vida na mata. Isso após avisarem a anta desavisada que a roupa nova da rainha não era tão bela quanto ela imaginava.

A selva parecia que ia ficando do jeito que eles queriam. Já havia até motivos de comemoração. Um ano havia se passado e, apesar da marcação cerrada do Guarda Belo e seus assistentes, o Manda-Chuva ainda era o dono do pedaço.

Até que, ao final de uma quarta qualquer, um alarido começou a fazer todo mundo sair numa correria desabalada na direção da clareira. Um bando de baratas tontas, desgovernadas e sem direção, protagonizava um espetáculo contagiante.

Dali a pouco macacos pulavam, araras gritavam, tucanos tentavam se camuflar nos galhos das árvores, esquecendo a alegre e nada discreta coloração de seus enormes bicos. Deslocamento naquelas circunstâncias nem pensar. E o risco de serem abatidos em pleno voo?

Ninguém sabia direito o que os papagaios papagaiavam, num alarido que chegava aos mais remotos recônditos da floresta. Não importava. Para quem não devia nem temia e pra quem tinha rabo preso também, era hora de correr pro centro da clareira e descobrir que diabo era aquilo. Seria o apocalipse? O tom era premente, de urgência.

E para lá foi a bicharada. O espetáculo era estranho. O dono dos bois atirando para todos os lados, como se ali fosse seu território. A cúpula da floresta paralisada, já cogitava mandar sua administração às favas, sem saber se poderia contar com o apoio das feras do pedaço. Seus chamados, apesar de encaminhados pela macacada, os mais ligeiros mensageiros, não surtiam os efeitos desejados, trazendo para o epicentro local lobos, leopardos ou sequer uma oncinha para apoiá-los e/ou defende-los.

Cada espécie tentava diminuir os reflexos dos acontecimentos em seu próprio umbigo. O importante era garantir sua própria pele. Se fosse possível, assegurando seu espaço no habitat. Água e alimento eram essenciais para a sobrevivência na floresta.

A passarada ia e vinha bicando trechos de conversas, num leva e traz de informações picotadas. O disse me disse crescia na mesma proporção em que as atividades rotineiras eram abandonadas. E a bicharada... corria!

Parecia um incêndio na floresta. Mas, e as labaredas? As cores avermelhadas que contrastavam com a silhueta da vegetação exuberante que em instantes, depois das ondas de calor insuportáveis, não estariam mais ali, onde estavam as labaredas?

Tampouco parecia ação impiedosa de motosserras. Onde estava o barulho insuportável dos motores e os gritos de dor e perplexidade da vindos da mata abatida? Havia traços de desastre no ar. Faltavam indícios do que estava provocando aquela tremenda confusão.

Depois do susto e do anúncio do vice-morcegão de que não haveria renúncia, a bicharada da floresta aguardou por dois dias,acompanhando os lances da demanda que apareciam aos poucos. Mas aí, chegou o final de semana, a adrenalina caiu, as expectativas minguaram e todo mundo resolveu voltar para casa e aguardar por lá o desenrolar dos acontecimentos.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM   FIM...  
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segunda-feira, 14 de março de 2016

Tremendão, o vendaval

Arpoador 151216 014.jpg Arpoador pedras por do solTremendão, o vendaval

Texto e fotos de Valéria del Cueto
Lembra daqueeeela floresta? Isso, Flotropi, o reino da anta equivocada que se esforçava para abafar o incêndio da Carboflora, ponta de lança no mundo prospectado das negociantas interflorestais? Orientada pelo bando de predadores que a cercam usava a boa e velha técnica do eu não sabia para se justificar diante do conselho florestal, composto por representantes, inclusive, dos bate panelas na janela.
Bons tempos em que a floresta era aquela modorra de uma propinazinha aqui, um resvala-um-vai-dois inocente ali... A bicharada estava até acostumada com os delírios dos conselheiros e demais instâncias decisórias. Afinal, ali deveria estar a fina flor da natureza, representante de seus respectivos pares. Terra, água e ar. Flora, fauna e, como tudo tem seu valor no equilíbrio ecológico, os minerais.
Até que... Papagaio falou, urubu debandou e hiena engasgou de dar risada. Enquanto a giripoca piava, competindo com o berro da araponga no quesito quero meu, no poder central todos imitavam a anta, fazendo cara de paisagem, vestindo a roupa nova do camaleão que mudava de cor, aerovoando daqui pra lá, como quem diz que não sabia de nadica de nada, nem ouvia o plac-plac culinário.De repente, devagarinho, começou uma debandada. Até galinha tomou banho quente querendo virar caldo, ou ir ciscar noutro terreiro. Pediu pra sair, mas não resolveu onde entrar e, agora, passeia de lá pra cá, meio descabelada, já fora da lista dos maiorais, mas cacarejando alto, como se o seu papo não estivesse a perigo, no meio do tremendão, o vendaval arrasa quarteirão.
No más é aquilo de sempre, os piores golpes não vem de inimigos declarados, mas daqueles que dão tapinha nos costas, frequentam a curriola, fazem parte da panela e usufruem de benesses sustentadas por recursos cruelmente surrupiados de quem mais precisa deles. Qualquer semelhança com casos ocorridos fora da floresta, lá para o lado da selva de concreto, não é mera coincidência. Os métodos, os alvos e os objetivos mais abjetos são os mesmos. As vítimas da espoliação também. Aquelas que estarrecidas viram molusco fazendo ninho para só ficar o olhando o mar, seu habitat original. Enquanto esperava que João de Barro ajeitasse o cafofo, era providenciado o kit lazer,  pedalinhos para os netinhos, canoa de alumínio e estocado na beira do brejo lembranças e alguns itens de primeiríssima necessidade alcoólica para manter o status quo e a paz no matagal do jaburu martelo.
Uma loucura! Tudo poderia ser esquecido se não fosse a tentativa de quebrar as asas do representante-mór do conselhão, levantando a lebre de algumas reservas e fundos ambientais não declarados e, aparentemente, desviados do transporte de combustíveis da Carboflora. Quando pensamos que a maré está ficando mais tranquila, voltamos a ela...
Explode a zika e a chicungunha, armas inicialmente utilizada pelos até então somente dengosos e heroicos aedes egypti. Kamikazes e indomáveis, eles começaram o processo de redução cerebral da espécie humana, responsável pela disseminação das práticas de corrupção e outros processos espoliatórios que hoje contaminam o ecossistema em todos os níveis planetários. As últimas informações é que outras espécies, como os pernilongos, começam a se preparar para entrar na dança e espalhar vírus durante seus já torturantes rasantes noturnos, aqueles dos quais ouvimos os zunidos antes de cairmos nos braços de Morfeu.
Ah, pobre Morfeu! São seus braços que tem feito uma falta enorme para o ex-conselheiro principal que deu com a língua nos dentes e cantou os podres da pobre Flotropi. Afinal, como dormir com um barulho desses? O que está sendo feito pela bicharada imolada na fogueira das vaidades turbinada por quantias inimagináveis, vinda de tenebrosas fontes de recursos ilegais dos mananciais da natureza?
A volta virá, diz o hit preferido dos ouvintes da rádio selva, os que não estão achando tranquilo, nem favorável, o ambiente poluído e sufocante das queimadas irresponsáveis e da crescente poluição das cabeceiras que abastecem e alimentam a vida na Flotropi. Estão matando o ambiente. Assim, nem galinha dos ovos de ouro vai mais ter onde ciscar...
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do Sem Fim...
E3- ILUSTRADO - SABADO 05-03-2016
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação (especial) de Nei Ferraz Melo

Studio na Colab55

sábado, 17 de outubro de 2015

Florestas urbanas

Belém 150915 068 Bosque Rodrigues Alves Iara lago amazônia

Florestas urbanas

Texto e fotos sobre Belém, de Valéria del Cueto
Há mais em Belém do que se imagina numa primeira abordagem. A cidade em 2016 comemora  400 anos da sua fundação e foi considerada, na época da áurea do extrativismo da  borracha, de 1890 a 1920, a “Paris n’América”. Pensam que é pouco?
Foi do “Bois de Bologne”, da Cidade Luz que veio a inspiração para a reforma do Parque Municipal, criado em agosto de 1883. Antônio Lemos, intendente municipal, o transforma no Bosque Rodrigues Alves, hoje reconhecido como Jardim Zoobotânico da Amazônia.
Passear por sua área de 15 hectares, é uma viagem à floresta amazônica, com direito a alamedas, viveiros, monumentos e recantos com grutas, riachos e cascatas. São mais de 10 mil árvores, de aproximadamente 300 espécies da região, incluído algumas em extinção. Caso do Cedro, Anjelim Rajado e Talibuca. O clima fica completo com 430 animais, de 29 espécies, que vivem em cativeiro. Outras 26 circulam livremente pelo espaço. São aves, répteis e mamíferos regionais coexistindo em perfeito equilíbrio com a natureza.
Pereira Passos, em 1905 faria a reforma urbanística do Rio de Janeiro. O prefeito carioca se inspirou e bebeu da mesma fonte que o responsável pelas mudanças urbanísticas que até hoje caracterizam Belém. Antes disso, a capital do Pará já havia partido na frente: foi a primeira cidade brasileira a ter luz elétrica e linhas de bonde elétricos. Era o auge do Ciclo da Borracha, em plena Belle Époque.
Da Europa chegam máquinas e peças de ferro, oriundas das mudanças provocadas pela Revolução Industrial. Muitas dessas estruturas podem ser vistas pela cidade. Entre elas o Chalé de Ferro, pré-fabricado e trazido da Bélgica. Montado entre 1882 e 1900, com 378 metros quadrados, serviu de residência e foi realocado no Bosque Rodrigues Alves.
Todo o complexo, que também é um campo de estudos e cultivos de mudas, é responsabilidade da Prefeitura Municipal e gerenciado pela Secretaria de Meio Ambiente.
Um Parque Zoobotânico está bom? Está não... Belém tem, além do Mangal das Garças, (já devidamente destrinchado em “Céu na terra”), mais um lugar especial para interagir com a grandiosidade da natureza local.
Belém 150917 007 Parque do Museu Goeldi preguiça
Museu Emílio Goeldi, instituição de pesquisas ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, se dedica, desde 1866, a estudar cientificamente os sistemas naturais e socioculturais da Amazônia. São mais de 5 hectares com  2 mil espécies, 600 exemplares da fauna e muitas atividades. Entre elas, exposições sobre temas locais, como “Amazônia, o homem e o ambiente” que ocupa uma das quatro salas do prédio principal, conhecido como Rocinha.
Belém 150917 012 Parque do Museu Goeldi Michel Vilhena e Rafael, pesquisador
Destaco a recepção proporcionada por Rafael, um dos integrantes do Clube do Pesquisador Mirim. Nos abordou uniformizado, de prancheta na mão, querendo que respondêssemos a algumas questões sobre o parque, seus animais e nossas expectativas em relação ao passeio. Compenetrado, nos acompanhou mostrando algumas das atrações que mais gostava. Explicou que não havia chegado ao Clube pela escola, mas pedindo que sua mãe o levasse até o Museu depois de assistir na televisão uma reportagem sobre as atividades dos participantes. As matrículas anuais estavam abertas. “Não parei de perturbar até ela me trazer. Estou adorando.” A ação educativa começou em 1997 e, de lá para cá, foi definitiva na escolha da profissão de inúmeros estudantes que passaram pelo clube. Muitos seguiram carreiras nas áreas de Zoobotânica, alguns São profissionais ligados a instituição.
Talvez esteja na hora do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, fazer uma visita a Belém do Pará para entender como é essencial a existência de um zoológico para uma comunidade. Quem sabe, não volte de lá com noções de como manter esse tipo de estrutura sem precisar entrega-la à iniciativa privada. Todos os espaços aqui citados pertencem e são geridos pelo poder público. Vivendo e aprendendo...
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do Sem Fim...
E3- ILUSTRADO - SABADO 17-10-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo


sábado, 3 de janeiro de 2015

Roupa nova, texto velho

Araras 140927 063 Mulatas pluma na água
Texto e foto de Valéria del Cueto, da série Araras
Depois de fechar o ano com arqueologia comparada e revelações de previsões pretéritas de um presente mais que perfeito, segundo o antigo e quase indecifrável calendário maia, a primeira coluna do ano será uma visão livre, leve e refrescante da rampa da clareira central. Afinal, como não deixar um registro histórico da re-posse da anta no reino encantado da floresta?
Essa foi uma dúvida que povoou a mente da escriba até que chegasse a conclusão que seria mais relevante narrar fatos históricos que procurar palavras, simples palavras, para descrever o que a torcida do Flamengo e o resto do mundo querem e esperam para 2015. Depois da performance de 2014 é melhor guardar até suas mais sutis esperanças nas geleiras do mais profundo querer para que não corram o risco de  derreterem ao calor insuportável que acalenta a floresta e adjacências. 2015 ainda precisa terminar de “ingestar” a realidade: agora é tudo com ele e a chapa já começou quente!
Reeleita para um novo reinado nas quebradas da Flotropi coube a mandatária se auto enfaixar, por cima da elegância das rendas francesas em tom “nude” que enfeitavam suas formas antais, diante dos aplausos calorosos e entusiásticos de seus não tão numerosos súditos! Eles deveriam lotar toooda a clareira, embalados ao som da voz possante e poderosa de uma querida e respeitada representante do essencial e estratégico Maranhão (já viu posse sem um maranhense na fita? Nem na floresta).
Como não havia ineditismo ou maiores atrações no regabofe segundo a análise do parapentista, pássaro raríssimo do Pantanal, sobrou muito sanduíche de “mortandela” para ser distribuído entre a engajada  claque de espécies enviada de vários recantos florestais para aplaudir a passagem pela trilha da reinante ladeada de espécies corredoras, incluído uma penca de dragões extintos, carregados por inquietos e encalorados cavalos. Tratados, dizia-se a boca pequena entre os insatisfeitos da clareira principal, como simples burros da carga!
Mas vamos pela ordem, como tanto pediram às Câmaras Florestais nos derradeiros dias do ano que passou a tucanada e outros bichos, enquanto tentavam impedir que se abrissem as porteiras do universo fiscal para que a anta cantasse em verso, uma história fiscal. Agora, com a antologia (re)criada na malfadada madrugada a sorte foi lançada! Daí pra frente não há futuro e nem presente, que o destino esteja ausente, nada se fez, nada se se faz, as antas não mentem já-mais! Talvez por que nunca saibam de nada...
Grande novidade, né? Foi por essas e por outras que a posse foi uma meia fila de vices, tipos assim, quase vascaínos, desfilando pela clareira florestal, ao lado dos alinhavados coleguinhas sul-americanos. A maioria com o pires na mão, pedindo que la reina raspe o prato da floresta e repasse umas migalhas para suprir suas carências socioeconômicas.
Cercada de abutres e hienas da sua cota pessoal e outros elementos cooptados a custa$ de 39 ministérios e sei lá quantas secretarias - para quebrar a escrita que todo Ali Babá tem sempre 40 ladrões, a mandatária desfilou toda sua sapiência requentando o blábláblá  revival do “Apertem os cintos que o piloto... sei lá!”, em sua versão 2.0. Foram 40 minutos de substantivos, adjetivos e muito verbo transitório, incluindo a promessa de “cumprir a Constituição Florestal” (ainda bem), protegendo frascos, comprimidos e afins. De boas intenções, essa floresta está cheia, mesmo desmatada a cada nova safra!
Ps Este não seria o tema da crônica semanal, mas minha mãe PTista disse que é falta de educação tecer comentários sobre a mandatária-mór do país. Parei na contramão e cheguei a conclusão que ela tem razão. Cabe a cada um de nós deixarmos bem claro os reflexos que o trato com a educação no Brasil vem provocando  nos últimos anos. Nem quem foi filhota da ditadura escapa dessa falta de reciclagem Mobral. Afinal, a vida é um eterno aprender e essa é a matriz que hoje honramos na Flotropi: quanto mais rasteira, melhor. Cansada de resistir às ondas do “mais e melhor” e “da prioridade das prioridades”, eis-me aqui: reconhecendo e fazendo uso deliberado de minha cota pessoal de má educação florestal. Pero sin perder la ternura jamás.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”, do SEM   FIM... delcueto.wordpress.com
GRAVATA 
Embalado ao som da linda voz possante de uma querida representante do essencial e estratégico Maranhão (posse sem maranhense na fita? Nem na floresta)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Pau que dá cá, não dá lá. Por enquanto...

Ipan Copa141208  011 Orla Copacabana por do sol rosa e pau delirio
Texto e foto de Valéria del Cueto
A Flotropi segue sendo incendiada pelas “alter”ações de seus dirigentes capitaneados pela anta que não sabia de nada. Dois tópicos dividem as opiniões da fauna em alvoroço: o mais gritante, o escândalo da Carboflora, ex-joia da coroa da floresta e orgulho produtivo durante décadas de seus então felizes habitantes e investidores.
Orgulho esse vilipendiado após o assalto recorrente e... morto! Quem afirma é o Achador Geral do reino ao  informar haver, inclusive, regras estabelecidas num documento similar ao regulamento  dos campeonatos do esporte preferido da bicharada definindo quem leva o que e como no bolo da ladroagem comissional. A comparação foi feita quando do envio à justiça florestal da denúncia contra seis empresas obreiras aditivadas, empreitadas para trabalhos de prospecção e desenvolvimento da Carboflora.
Parte dos responsáveis foi indiciada por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa Para tanto, foi pedida a condenação de quase 40 ladrões. Todos corruptores. Acontece que, já dizia o antigo ditado assim como “onde há fumaça, há fogo”, “onde há corruptores, há corrompidos” beneficiados. E a batata deles está assando a fogo brando nos caldeirões da polícia florestal. Mais cedo do que tarde, esperam os animais assistindo atônitos ao desenrolar das investigações, a coisa vai engrossar para os lados (são muitos) dessa corja corrosiva composta de abutres, hienas e outros partidários do conselho antal que, já está comprovado, conspurcou a Carboflora em bilhões de dinheiros e vergonha na cara.
A bicharada agora está mais tranquila porque sabe que o rombo extrapolou as fronteiras da floresta e já tem investidores de outras habitats naturais entrando na justiça lá de fora em busca do prejuízo perdido nas bolsas internacionais. Afinal, enganar os próprios habitantes é moleza! Mas mexer com quem acreditou na Carboflora mundo afora, são outros quinhentos...
Para desviar o foco da confusão interflorestal a anta e seus conselheiros deram voz e  lagrimas de crocodilo ao resultado da “Começão da Meia Verdade”, instituída para levantar e condenar parte dos responsáveis pelos atos de tortura e barbáries ocorridas durante os anos do milênio passado, a partir de 1946, na floresta.
Os especialistas da meia verdade concluíram que os revolucionários militares foram culpados de tudo: abusos, torturas e assassinatos. Só analisaram os atos que aconteceram a partir de 1964. Isso, apesar do inciso que determinava que os crimes cometidos “na sociedade”, ou seja, pelos terroristas também fossem investigados. Resumo da ópera bufa: na fabulosa “Começão Florestal”, pau que dá em Pedro não dá em Francisco. Seu presidente  ainda espera que o Pedro milico, assim como o Francisco papa, peça desculpas por seus atos! Vai esperar sentado, mesmo que seja numa caçada de espera para pegar a onça, quando ela for beber água na beira do berço esplêndido da Amazônia criminosamente desmatada no reino antal...
Entre um “dallario” e uma declaração imbecil de um parla-militar de que “não estupraria” uma opositora (que pede sua condenação por falta de decoro parlamentar pela reação do colega, após de chama-lo de estuprador) o que só pôs mais lenha na fogueira que arde ameaçando lamber o já combalido e desacreditado Congresso Florestal, a estratégia do eu não sabia governamental acabou indo cachoeira abaixo quando das fileiras trabalhadoras da Carboflora a Jiripoca começou a piar. A tal da volta do Aracuã pode fazer a limpa nas margens imundas e, se já levantadas ainda não divulgadas, da outra face da moeda podre da roubalheira carbônica florestal.
Diante de tanto trabalho meia boca, já tem quem sugira a suspensão da piracema e a liberação da pesca das piranhas e afins nos rios de lama contaminados da floresta, com a suspensão das férias congressuais, jurídicas e executivas dos altos mandatários locais. Afinal, férias amplas gerais e irrestritas são um ótimo motivo para viagens de só ida para o exterior...    
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
GRAVATA 
Mais cedo do que tarde, esperam os animais assistindo atônitos ao desenrolar das investigações, a coisa vai engrossar para os lados da corja corrosiva.
ILUSTRADO TER A A S BADO     NOVEMBRO  2009

domingo, 7 de dezembro de 2014

Pau na mula que a coisa é chula

Araras 140927 057 Mata Atlântica floresta
A floresta está uma mixórdia depois das últimas eleições. Mas isso é letra morta diante dos últimos acontecimentos. Depois de prometer, ameaçar, difamar e descumprir o prometido (a novidade – sempre há – é o tempo recorde das “ações” acima citadas) no período eleitoral, os donos da floresta devastada e ameaçada por sua própria corja, estão brigando entre eles e com toda a população adjacente. Uma loucura!
No meio disso, os preços dispararam, a indústria florestal parou, os investidores externos picaram a mula (que não são bestas) e os internos agora são taxados (que injustiça!) de propineiros e corrompedores ativos e passivos. Foram delatados por penas menores pelos operadores do sistema de arrecadação implantado pelos abutres quando pegos com a boca na botija. Deu pra entender?
O rolo começou na Carboflora, mundialmente conhecida e, até então, respeitada. Durante o período eleitoral a anta  usou a frase preferida do seu guru crustáceo: “eu não sabia” para negar o óbvio. Depois, a coisa saiu do controle e, pra livrar seus próprios rabos, os repteis da alta cúpula nas negociatas não apenas abriram suas bocarras, mataram a cobra e, pra não haver dúvidas, mostraram o pau. Quer dizer, as atas da ladroagem. Virou foi bola de neve! Aí apareceu uma correspondência que invalidou o “eu não sabia” da anta. A coisa se alastrou como “o nunca antes na história dessa floresta”...
Os habitantes da floresta ficaram pasmos! Ainda mais quando descobriram que os esquemas alimentaram doações oficiais da campanha vindas diretamente da fonte patrocinadora, no caso, dos encarregados das obras de melhorias do habitat natural dos animais. Aquelas que raramente ficam prontas apesar de aditivadas e, antes mesmo de concluídas, são condenadas por “mal feito” elaboracionais e executivos.
As notícias dão conta que o sistema alimentador do propinoduto está implantado em todas as ramificações e trilhas da floresta. Tudo é uma questão de seguir os mestres delatores, suas informações privilegiadas e devidamente documentadas para fazerem parte da contabilidade fraudal. O negócio é muito organizado...
Parece que não vai sobrar pedra sobre pedra! O que por lei impediria, inclusive, que as maiores obreiras  possam continuar suas empreitas florestais. Formiga, João-de-Barro e outros construtores tradicionais estão todinhos na pica do Saci, enquanto as cigarras cantam no calor das delações!
E não para por aí. Há mais entraves, esses resolvidos na plenária dos representantes da fauna para fazerem suas leis. Acontece que a anta, por não conseguir fazer dois mais dois serem iguais a quatro, resolveu mudar as regras da matemática financeira da floresta pela qual, quem não conseguisse chegar ao resultado correto deveria ir para o xilindró da economia.
Resultado? Quem tá junto, no caso a maioria, seguindo seus líderes, foi cooptado para mudar o que está escrito e, pior ainda, retroceder no absurdo.
A minoria - tucanos e outros animais não alinhados - se revoltou fazendo um alarido danado usando todos os meios regimentais para adiar e impedir o descalabro. Não teve jeito! De tanto ouvir “apartes” e “pela ordem” o pica-pau que conduzia as sessões quase perdeu seu novo topete, fruto de um implante, quando para – literalmente - esfriarem as discussões, a temperatura do recinto foi baixada para um grau quase glacial. Tudo para calar a oposição...
A votação da “antagonia”, a economia criativa animal, já estava garantida. O martelo do vale tudo fiscal foi batido com um “in$entivo” por decreto e condicionado a aprovação da mudança instituindo: “2+2=5 na floresta. Um agradinho de mais 750 mil em emendas para cada piada a favor. Uma bagatela de 444 milhões.
Mas cá entre nós (e os botões dos capotes usados para espantar o frio da sessão histórica) diante dos bilhões surrupiados, o que significa essa merreca animal?  
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
GRAVATA 
Formiga, João-de-Barro e demais construtores tradicionais da floresta estão todinhos na pica do Saci enquanto as cigarras cantam no calor das delações
ILUSTRADO TER A A S BADO     NOVEMBRO  2009

domingo, 28 de setembro de 2014

Ó raios, enfim, a salvação

CopaLeme 140923 008 Praia posto 6 ilhas e luz
Texto e foto de Valéria del Cueto
Nem ele, o extraterrestre, aguentava mais. Não tinha tanta resistência quanto os humanos. “Não era casca grossa”, lhe dissera a cronista enclausurada, dando risada de si mesmo e considerando a hipotética possibilidade de que ela também não o fosse. Caso contrário, que raios estaria fazendo ali, do outro lado do túnel, pela terceira semana seguida?
Pelo sim, pelo não, sugeriu a Pluct Plact que tentasse se reequilibrar dando um tempo numa praia, que não necessariamente precisava ser a dela, a Ponta do Leme.
Não resistiu a Copacabana, hipnotizado - como todos os turistas do mundo, pelo zig-zag das ondas de pedras portuguesas, da famosa calçada da orla carioca.
Até tentou chegar ao Arpoador, mas notou que o sol teria baixado antes que ele conseguisse transpor com mais um micro-pulo, a ponta do Forte de Copacabana e a praia do Diabo. Ainda não era verão.
Preferiu ficar por ali e olhar o mar, sentir o ar batendo em sua pele de alienígena pouco cascudo (como já sabia) e pensar...
Pensar no que estava acontecendo na floresta, de onde a anta vestiu o tênis e resolveu ir pagar mico diante dos representantes de toda a fauna mundial, na Assembleia Geral.
Ali deixou claro após um blablablá eleitoreiro capiau que não assinaria o tratado climático proposto. Afinal, depois de termos até ter tido um Embaixador Extraordinário de Mudanças Climáticas - chamado Serra, que não era o José, mas o Sérgio (nos tempos do crustáceo), agora, não havia mais intermediários. Ela queria dialogar com todos os elementos da flora, fauna e também os minerais.
A anta andava com a corda toda! Definiu, imaginem, que o papel dos jornalistas não é investigar. Também querendo piar no quintal, quer dizer, fechar o bico  da profissão alheia!
Justamente quando vazou os nomes de umas espécies  coleguinhas e parceiras na delação premiada de um dos lava-jatos recolhidos ao xilindró. Para ficar mais tranquilo, o dono dos dólares também está disposto a abrir o bico e cantar outras novidades sobre quem-levou-quanto-de-onde-para-onde, como e porquê. Considerando que só se ganha o benefício do dedurismo se as informações forem deveras interessantes e definitivamente comprovadas, calcule (por baixo, por favor) o que vem por aí a jato em plena falta d’água...
Tudo isso coisa velha, que pode ser ainda mais apimentada nas edições de final de semana das revistas nacionais. Ora, veja, que época para exame... Mas o que tirou nosso ET do sério não foi nada disso que, afinal de contas, não é a sua praia espacial.
Triste e desolado ficou quando a dita anta disse que irá nos próximos dois anos “preparar uma geração olímpica”. Sem que quase ninguém se revoltasse ou pedisse o segredo guardado no coração mais profundo da floresta que permitirá conseguir a proeza que todas as nações do mundo querem descobrir: como fazer em duas temporadas esportivas (começando das categorias de base, nas escolas), o que não foi feito nos  "troçantaslulas" anos, desde que fomos escolhidos sede olímpica. Período onde poucos esportes fizeram algo por uns quantos atletas, enquanto a maioria ficou na transposição da vala do esquecimento e do abandono.
Foi aí que viu os sinais: raios na areia! Poderia usá-los para tentar mais uma vez sua impulsão sideral. Não partiu. No seu exílio terreno, viu coisas que até Deus duvida! Mas aprendeu a nunca deixar um parceiro para trás. Não seria ele que abandonaria a cronista enluada no escuro. Quem sabe numa próxima oportunidade...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM   FIM... delcueto.wordpress.com
GRAVATA 
A anta anda com a corda toda! Definiu que papel de jornalistas não é investigar. Tá piando no quintal, quer dizer, fechando o bico da profissão alheia