Oi, tchau!
Texto de Valéria del Cueto
Muito legal esse negócio de escrever crônicas, artigos e relatos de viagens e aventuras. Menos quando estou no meio de uma viagem ou uma aventura.
No início era mais fácil, já que tudo virava novidade. Agora, com o número de depoimentos e impressões crescendo a cada ano, há que haver um novo cuidado. O de não me tornar repetitiva.
Um caso clássico é o carnaval. Um por ano. Ou melhor, quando a maré está favorável, vários a cada temporada. E dá-lhe ensaio técnico, barracão, grupo de acesso, infantil, especial, campeãs, carnaval fora de época no sul...
Pretendo expandir ainda mais meu metier incluindo no currículo, ano que vem, carnavais internacionais sul-americanos e, quem sabe, a festa de New Orleans.
Mas esses são planos e, quem me conhece, sabe que raramente eles acontecem como planejo. Tudo comigo é assim, meio no improviso, graças a Deus.
Por isso, no momento, depois de ralar pra caramba nas avenidas e Sapucaís que se estendem aos pés de milhares de animados foliões, só penso mesmo em descansar um pouco.
É. Já sei que muita gente pensa que vida de fotógrafo carnavalesco é só gandaia. Em parte. Também é muita esforço, suor, chuva e quilômetro rodado. E tente não fazer uma preparação física pra ver o que acontece...
E foco. É necessário muito foco e objetividade pra não se perder no mar de cores, corpos, formas e, por que não dizer, no canto das sereias que embalam as melodias das escolas. Concentração é o fator decisivo para o bom andamento dos takes registrados.
Concentração e muita sorte. Sendo que, esta última, definitivamente nem sempre está ao nosso lado. Cito um caso recente: numa noite longa de várias escolas desfilando senti que estava tão cansada que perdia o décimo de centésimo de antecipação necessário para fazer o registro preciso e inspirado que desejava.
Parar por que? Por que via, pelo visor da câmera, que deveria ter sido mais rápida, ágil e eficaz nos momentos de clicar.
Parar pra quê? Impossível fazê-lo, por que carnaval é assim: é hoje só! Amanhã, se tiver mais, serão outras escolas, enredos e personagens, não mais os que me desafiavam no momento de exaustão em que deixava de pegar o flagrante que via passar diante dos meus olhos mas não tinha agilidade para capturá-lo com as lentes da minha câmera.
Moral da história: pecar por excesso e jamais me omitir, mesmo que os resultados deixem a desejar. Tal e qual na vida que não espera que estejamos preparados para vivê-la.
A vantagem é que, depois de fotografar, podemos melhorar o material num editor de imagens, corrigindo as cores, o brilho, o contraste e enganando o foco doce. Ajustando o quadro e, na pior das hipóteses, criando um (d)efeito criativo.
Também é importante saber o momento de parar. Mais vale uma escola a menos do que 12 mal registradas.
Por isso, peço a bênção dos amigos e me despeço até segunda ordem. Meu corpo pede paz, uns dias no Uruguai e, pra finalizar, uma noite muito bem dormida lá fora, na estância, onde pretendo dormir ao som do repique dos grilos e acordar ouvindo a cacofonia da passarada, nem um pouco preocupada em levar a nota máxima dos jurados de harmonia, bateria, samba enredo e evolução dos exigentes jurados dos sambódromos da vida...
Fui!
...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Este artigo faz parte da série Fronteira Oeste do Sul, do SEM FIM